O DIA EM QUE O “ESTADÃO” VIROU JORNAL DE BAIRRO OU A SÍNDROME DO “DIÁRIO DE SÃO PAULO”

Há alguns meses atrás, a propósito de fazer uma série de artigos sobre a impressa escrita corporativa dominada por famílias no eixo Rio e São Paulo, escrevi um texto analítico examinando a trajetória do jornal da família Mesquita depois que deixou de ser conduzido pelos sucessores de Júlio de Mesquita Neto e Rui Mesquita. E concluí que o Estadão tinha se transformado em uma publicação irrelevante na atual conjuntura do país.

Hoje volto ao tema, em vista do lançamento do novo formato do jornal, que aderiu ao estilo tabloide germânico berliner, usado por inúmeras publicações globais, com o objetivo de crescer em circulação, aumentar a rentabilidade e a qualidade do conteúdo ,além de diminuir os custos em papel-jornal.

Nas palavras de Francisco Mesquita Neto, diretor- presidente do Grupo Estadão: ” Uma mudança que o leitor do jornal tanto aguardava”. Verdade que os responsáveis pelo jornal demoraram alguns anos em admitir.

Para a empreitada, que teve início em novembro de 2020, foi contratada a empresa TRI Mídia, de Barcelona, a mesma que realizou o projeto no Brasil de modernização dos jornais dos Marinho, O Globo e Extra, do jornal mineiro O Tempo; também a nível global pelos projetos dos jornais El País ( Espanha), Clarin e Olé ( Argentina), Independent ( Londres), 24 Ore, La Stampa e L’Unità ( Itália) e outros espalhados por diversos continentes.

Como escolha acertaram no parceiro. Criatividade e inovação são características dos designers liderados por Chico Amaral.

Mas os resultados práticos ficaram aquém do desejável, apesar do oba-oba das sondagens com os leitores após a publicação da edição de domingo.

Quero crer, podem ser consequência da mão-de-obra do Estadão não ter acompanhado as ideias dos espanhóis ou ter tido medo em revolucionar o jornal, já que o desenvolvimento do projeto deu-se apenas pela internet.

Principais erros: tentaram adaptar a velha paginação ao novo formato, não criaram uma tipografia exclusiva, o jornal ficou sem identidade visual, tem aparência de jornal de bairro, a paginação antiga já estava ultrapassada sendo fundamental criar uma mais moderna, encolher sem mostrar pujança editorial, o formato que lembra que uma revista ilustrada necessita de identidade marcante.

Único acerto: diminuir os custos em papel-jornal.

Faltou “time” para a reformulação, que se mostrava urgente há muito tempo. Não era preciso ir tão longe para buscar inspiração. Na vizinha argentina, o jornal La Nacion, também conservador, de direita e liberal, era o melhor exemplo. Em Portugal, os jornais Público e Diário de Notícias também mostravam o caminho das pedras.

O calvário do Estadão, começou quando os gênios de Organização e Métodos convenceram os Mesquita que era melhor vender a sede da Major Quedinho para o Grupo Orestes Quércia e mudar para a Marginal,

Manobra que permitiu aos novos donos do local, que sempre foi referência no centro da cidade, saldarem a dívida em menos tempo do que o contrato determinava, arrendar o Hotel Jaraguá ao Grupo Accor e lançar o jornal Diário de São Paulo.

Hoje podemos dizer, que o novo Estadão lembra o finado Diário de São Paulo, em seu provincianismo de jornal de bairro.

Será que o a publicação dos Mesquita sofre da síndrome do Diário de São .Paulo ?

Só o tempo dirá, se o jornal caminha para seu fim ou conquistará novos leitores.

PATRICIO BENTES ( ALLTV)

Patrício Bentes é jornalista e sociólogo.

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