- Grandes expoentes da língua portuguesa são brasileiros e muito enriqueceram as letras camonianas em todos os continentes. Autores universais, como o nosso próprio idioma, surgiram em diferentes pontos deste imenso Portugal nas Américas. Conquistado, primeiro, pelo Tratado de Tordesilhas, de 1494, sob a bênção da Igreja, e consolidado com o Tratado de Madri, assinado em 1750, incorporando aos territórios da Coroa de Lisboa o Norte, onde se encontra a Amazônia, bem como as vastas regiões centrais. As obras brasileiras refletem esse esplendor. Não só nas antigas metrópoles. Como Salvador, na qual foram contemporâneos, no século XVII, dois dos maiores homens de letras lusas, o Padre António Vieira (1608 – 1697), natural de Lisboa, dos celebrados “Sermões”, e o pícaro poeta soteropolitano Gregório de Matos (1636 – 1696), com a alcunha de Boca do Inferno.
- E, posteriormente, onde viveu um dos ícones da baianidade, Jorge Amado (1912 – 2001), autor de “Gabriela, Cravo e Canela” e “Dona Flor e seus dois maridos”. Inúmeros são os ficcionistas cariocas. Destacam-se, especialmente, Machado de Assis (1839 – 1908), Lima Barreto (1881 – 1922) e Nélson Rodrigues (1912 – 1980). E paulistas, como Mário de Andrade (1893 – 1945) e Oswald de Andrade (1890 – 1954), protagonistas da revolucionária Semana de Arte Moderna de 1922.
- Existe praticamente um grande vulto em cada Estado. A começar pelo Amazonas, com Milton Hatoum, de 69 anos. Seguimos, depois, com o maranhense Aluísio de Azevedo (1857 – 1913), de “O Cortiço”, o cearense José de Alencar (1829 – 1877), de “O Guarani”, os paraibanos José Américo de Almeida (1887 – 1980), da “Bagaceira”, e José Lins do Rego (1901 – 1957), de “O Menino de Engenho”, o potiguar Luis da Câmara Cascudo (1898 – 1986), memorialista de seu Nordeste, os pernambucanos Gilberto Freyre (1900 – 1987), de “Casa Grande & Senzala”, e João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999), o alagoano Graciliano Ramos (1892 – 1953), de “Vidas Secas”, os mineiros João Guimarães Rosa (1908 – 1967), de “Grandes Sertões: Veredas” e o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) e, obviamente, o gaúcho Érico Veríssimo (1905 – 1975), de “O Tempo e o Vento”.
- Talvez o menos festejado de todos eles, hoje em dia, é Câmara Cascudo – cuja casa, no centro histórico de Natal, capital do Rio Grande do Norte, transformada agora em seu Instituto, visitei em setembro de 2019, ao lado de minha querida esposa, Dona Andrea Wolffenbüttel,. O imóvel de Câmara Cascudo, embora mais modesto, é algo semelhante à Casa de Apipucos, em Recife, sede da extraordinária Fundação Gilberto Freyre. Ambos, aliás, possuíam afinidades e a preocupação em conservar a memória dos séculos do início da colonização – ocorrida, primordialmente, no Nordeste. Principalmente durante o período nassaviano, quando, no século XVII, Recife, assim como a Cidade da Paraíba, atual João Pessoa, e Natal, estiveram sob controle da Holanda.
- Uma das preciosas obras de Câmara Cascudo é o “Dicionário do Folclore Brasileiro”, publicado em 1952, considerado o mais completo estudo a respeito das raízes da presença portuguesa no País. Ocupou-se também de pesquisar sobre o domínio holandês no Nordeste, sobretudo em seu Estado, com a elaboração de dois importantes livros, infelizmente, esgotados: “Os Holandeses no Rio Grande do Norte”, lançado em 1949, e “Geografia do Brasil Holandês”, de 1956. Escreveu ainda uma portentosa História de sua Natal – que parece preservar no imaginário provinciano o universo cosmopolita de Lisboa e Amsterdam.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador