Com a popularidade derretendo e a CPI repleta de provas, o capitão opta por criar confusão, como a suspensão da vacinação de adolescentes, para agitar sua militância, decepcionada com o resultado do 7 de setembro.
Confesso que ainda tenho dúvidas se as coisas que Bolsonaro diz e faz são fruto da sua mais completa ignorância ou se é pura maldade mesmo. Agora que o avanço da vacinação no País começa a apresentar resultados com o número de mortos caindo – embora estejamos quase atingindo os 600 mil – o Ministério da Saúde, atendendo a uma orientação do presidente, suspende a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos que já estava em andamento em muitos estados.
Na folclórica live das quintas, o capitão tentou se justificar da forma que melhor sabe fazer: disseminando fake news. Alegou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) é contrária à vacinação de adolescentes. Na realidade, o que a entidade prega é para que os grupos mais vulneráveis sejam priorizados, especialmente nos países onde o processo de imunização está atrasado.
Bolsonaro também aproveitou a live para praticar seu esporte favorito: atacar os governadores e prefeitos da oposição. “Tenho visto alguns governadores e prefeitos obrigando a vacinar essa garotada. A lei federal diz que você pode vacinar de 12 a 17 com comorbidades. A Anvisa diz que é apenas Pfizer. E tem governadores e prefeitos impondo qualquer tipo de vacina, não interessa quem seja o menor”, disparou.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, “pazzuelou” e seguiu à risca a orientação do presidente, que não é médico e já provou que sempre vai na contramão do que diz a ciência e o bom senso. Surpresos com a decisão do ministro, alguns governadores reagiram. João Dória, de São Paulo, foi o primeiro. Avisou que não seguirá a determinação do Ministério e que continuará vacinando os adolescentes. Prefeitos também mantém a vacinação.
O presidente da República, que deveria sempre se preocupar com o bem-estar dos brasileiros, faz justamente o contrário. Prega a desordem, dissemina dúvidas e cria confusão apenas para impor a sua vontade. Sob o comando de Queiroga o Ministério da Saúde avançou bastante na vacinação, mas nos bastidores havia rumores de que Bolsonaro não estava satisfeito. A justificativa era de que o ministro, que é cardiologista, estava demorando para desobrigar o uso de máscaras ao ar livre.
Na manhã dessa quinta-feira (16), Bolsonaro ligou para Queiroga e mandou mudar a orientação do Ministério da Saúde em relação a vacinação de adolescentes, à revelia da Anvisa, dos órgãos técnicos do próprio ministério e dos parceiros no processo de vacinação nos estados e nos municípios. “O presidente me cobra todos os dias essas questões de vacinação, sobretudo com essa questão de adolescentes”. Na tentativa de explicação de mais uma decisão absurda do Ministério da Saúde, a pedido de Bolsonaro, segue a narrativa do ministro Queiroga:
— O presidente é muito preocupado com o futuro do país. Hoje mesmo ele me ligou: `Queiroga, olha aí`. Sim senhor, presidente, pode ficar tranquilo que vamos olhar isso aqui com cuidado.
Na mesma live dessa quinta-feira, transmitida pelas redes sociais, Bolsonaro disse que tem uma opinião sobre a vacinação de jovens. Ele também teve uma opinião sobre a própria pandemia, a tal “gripezinha”, as vacinas que poderiam transformar as pessoas em jacarés, receitou remédios sem eficácia com fortes efeitos colaterais, negou e boicotou todas as orientações de cientistas e médicos. “A minha conversa com Queiroga não é uma imposição. Levo para ele o meu sentimento, o que eu leio, vejo e chega ao meu conhecimento”, justificou Bolsonaro, dm meio às baboseiras de sempre sobre a pandemia.
Talvez por temer ser demitido Queiroga tenha aceito fazer esse papel. Para um cardiologista, com compromisso com a ética médica, é até mais vexaminoso que os papelões protagonizados pelo general Eduardo Pazuello. De qualquer forma, a desastrosa e criminosa gestão da pandemia, além de tantas mortes e desgaste popular, vai começar a ser cobrada efetivamente pelas instituições do país. A CPI da Pandemia vai dar o start com o relatório do senador Renan Calheiros, reforçado com a tipificação dos crimes por um grupo de juristas. São pelo menos sete crimes, que dão respaldo jurídico para acusações criminais e processo de impeachment por crime de responsabilidade.
Com a popularidade derretendo e a corda no pescoço, resta a Bolsonaro fazer confusão para depois posar de vítima e tentar reavivar a militância, decepcionada com o resultado do 7 de setembro. Até isso ficou difícil.
EDNA LIMA ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)