O STF (Supremo Tribunal Federal) não fez acordos com o capitão. As tentativas de justificar seu recuo diante de si mesmo e da sua tribo, quando homologou a carta do ex-presidente Michel Temer, arregando diante do ministro Alexandre de Moraes, não receberam afagos. O capitão entendeu como contrapartida a garantia de que o gesto lhe daria benefícios palpáveis. Um aqui e acolá vista grossa para ires e vires de seus filhos, e quem sabe, benevolências para si mesmo.
O capitão psicografou a carta de Temer, recuou 180 graus, e ficou como fantasma esperando encarnar, sem médium à disposição.
Caiu no conto (se achando esperto, ou no mínimo crente…).
O esforço do ex-presidente Temer diante do estreante vocacionado em tiranias esbarra na explicação pura e simples segundo a qual o STF não faz acordos, mas os ministros homologam acordos, sim, diante da lei. Tem aí um obstáculo a ser superado pelo capitão: a lei. Mas Temer não explicou.
O destrambelhamento do capitão, que procurava solução mágica para problemas concretos, criou a fantasia do tudo pode, lendo equivocadamente, em seu favor, gestos ambíguos do ex-presidente Temer, na fantasia de que dá-se um “jeitinho”, e que palavras podem tudo, ainda mais se impressas em papel timbrado e assinado como declaratório à Nação.
Claro, ser simpático pode dar a ilusão de que se é escutado com generosidade, mas não pode ser confundido com complacência. E o capitão, se acha que escutou promessa de que está acima da lei e da ordem, como gostaria, deu com os burros n’água. Aliás, Temer sabe muito bem disso e angaria a imagem de moderador geral do país, quando, na verdade, foi intermediário de si mesmo, usando o espaço de constitucionalista para dizer: olha aí, cuidado!
Se um ministro do STF, Gilmar Mendes, por exemplo, afoito negociador e personagem afeto a usar a sua toga para entrar e sair de ambientes incólume e com autoridade, participar de conversas com autoridades de vários tipos para fazer ponte e propor “soluções”, embora a sua atribuição seja de julgador, o resultado da sua maratona é nenhum. Porque o STF não faz acordo.
No troca-troca orquestrado por Michel Temer, atuante nos bastidores, mas desejoso da ribalta, se houve alguma promessa ou garantia de que o capitão seria beneficiado por um gesto de boa vontade, acima do que a lei prescreve, comprou gato por lebre. E lebre viva, correndo solta. Não há garantias.
Temer conseguiu o que queria, um holofote que o ilumine como personagem decadente, mas com fôlego ainda para falar um monólogo diante de plateia semiadormecida. Deixa-se enlevar por citações, de ser nome para uma tal saída pela terceira via, como se houvera. Mira, como o tuareg, a ilusória e inebriante imagem do oásis no deserto. Mas é o show dele.
O capitão caiu no conto.
Enquanto o riso come solto em convescotes em que o Temer é personagem de proa, o capitão é personagem de piada, e ainda fica devendo explicações para os seus seguidores, de que não arregou diante do STF depois de ter vociferado publicamente contra o ministro Alexandre de Moares.
Não é à toa que o capitão ficou quase três décadas (!!) como desimportante, menor, exótico e insólito perambulante dos corredores da Câmara dos Deputados, em Brasília, reproduzindo – segundo se diz – a prática de “rachadinhas” – como um negócio de família, sua fonte de renda e de patrimônio. Não se lhe pode atribuir capacidade de entender quando há um conto do vigário.
Foi assim: aconteceu no século XVIII, na cidade de Ouro Preto, entre duas paróquias – a de Pilar e a da Conceição – que queriam a mesma imagem de Nossa Senhora. Um dos vigários propôs que amarrassem a santa no burro ali presente e o colocasse entre as duas igrejas. A igreja que o burro tomasse direção ficaria com a santa. Acontece que, o burro era do vigário da igreja de Pilar e se direcionou para lá, deixando o vigário vigarista com a imagem.
O capitão caiu no conto do vigário.
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