A CAÇADA INCLEMENTE À PREVENT SENIOR E A FALTA DE RUMO DO JORNALISMO

Pode ser que as denúncias se comprovem; pode ser que não. Denunciar primeiro e conferir depois é herança do sub-jornalismo que consagrou a Lava Jato.

Devagar com o andor, com o caso Prevent Senior.

Trata-se de um plano de saúde que rompeu com os preços exorbitantes do setor, especialmente em relação aos idosos. Conseguiu notável redução de preços através de gestão da saúde, acompanhando o dia a dia dos pacientes, valendo-se do teleatendimento, da medicina preventiva.

Naquele início de pandemia, a hidroxicloroquina e outros similares se transformaram em esperança para muitos setores.

Quando estourou a pandemia, julgou ter o caminho das pedras. Todo mundo estava atrás da pedra filosofal, do medicamento capaz de reduzir a mortalidade. A Prevent tinha a melhor base de dados para a clientela mais vulnerável – os idosos. Parte dessa clientela consumia hidroxicloroquina para outras doenças. E uma pesquisa rápida demonstrou que, nesse público, havia menos incidência da doença.

Aí a Prevent viu a oportunidade maior, de se projetar até internacionalmente, e apostou tudo no remédio. Sua primeira pesquisa foi desmontada pelos especialistas, por não seguir os padrões rigorosos da ciência médica. A empresa ficou de apresentar uma segunda pesquisa, com um universo mais amplo de pacientes. Mas nunca apresentou. Àquela altura, o debate estava amplamente contaminado pela politização absurda conduzida por Jair Bolsonaro.

Agora, explodem denúncias contra a empresa, todas elas baseadas em declarações anônimas de médicos dispensados por ela. 

Em muitos casos, as informações vêm acompanhadas de uma escandalização descabida. Como o carnaval em torno do áudio de um diretor informando que as pesquisas foram citadas por Bolsonaro e por Raoul Didier, o cientista francês que também apostou no remédio, e que, por isso, tinham que ser feitas com muito rigor. A mera menção a Bolsonaro resultou em ilações incriminadoras.

Pode ser que as denúncias se comprovem; pode ser que não. Denunciar primeiro e conferir depois é herança do sub-jornalismo que consagrou a Lava Jato.

Nos últimos meses os planos de saúde e grupos hospitalares se tornaram grandes anunciantes de canais de TV a cabo e rádios – o que recomendaria um cuidado maior para atacar um fator de moderação das mensalidades. A destruição da Prevent poderá consagrar, novamente, a falta de limites dos planos de saúde na cobrança de mensalidades.

Repito: pode ser que as denúncias se confirmem; pode ser que não. Mas atirar primeiro e perguntar depois é coisa da jagunço, não de jornalista.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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