Além do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o MP-RJ (Ministério Público do Rio) pediu à 1ª Vara Especializada de Combate ao Crime do TJ-RJ (Tribunal de Justiça) a quebra de sigilos bancário e fiscal de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher do presidente Jair Bolsonaro (sem partido – RJ) e mais 25 pessoas. A quebra foi autorizada no dia 24 de maio.
Ao todo, o núcleo investigado que inclui Ana Cristina possui mais seis parentes dela que constaram como assessores de Carlos Bolsonaro. O MP -RJ investiga o grupo desde julho de 2019 por suspeitas de devolução de salários, a rachadinha, e a existência de nomeações de “funcionários fantasmas” — pessoas que não trabalhavam de fato em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio.
Outras sete empresas também tiveram os sigilos quebrados no caso. Carlos Bolsonaro negou irregularidades. A defesa de Ana Cristina Valle lamentou o vazamento dos dados e disse que se manifestará nos autos. Ela trabalha hoje como assessora da deputada federal Celina Leão (PP-DF) e mudou semana passada para uma mansão de R$ 3,2 milhões em Brasília.
As investigações começaram depois de uma reportagem desta colunista e da jornalista Juliana Castro revelar na revista Época, em 20 de junho de 2019, que Carlos teve na lista de seus assessores pessoas que moravam fora do estado do Rio de Janeiro e até admitiram que nunca trabalharam para ele.
No núcleo de Ana Cristina, além dela, outras seis pessoas tiveram o sigilo quebrado. A lista inclui o publicitário André Valle e a fisiculturista Andrea Valle, ambos irmãos da ex-mulher do presidente. Gilmar Marques, que foi companheiro de Andrea e é pai da filha dela. Ainda, a professora Marta Valle, cunhada de Ana Cristina.
Em entrevista à revista Época, Marta disse que nunca trabalhou para Carlos. No entanto, ela constou como assessora de 2001 a 2009 e tinha um salário bruto de R$ 9,6 mil. “Não fui eu, não. A família de meu marido, que é Valle, que trabalhou”, declarou.
Em julho, a coluna mostrou gravações de Andrea Valle que mostram ela admitindo que devolvia 90% do salário que recebia no período em que constou como assessora de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), cerca de R$ 7 mil. Andrea também disse que o então deputado federal Jair Bolsonaro demitiu André Valle, irmão dela, porque ele não entregava os valores do salário combinados.
“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'”, contou Andrea. O material está no podcast UOL Investiga – A vida secreta de Jair. Andrea também teve o sigilo quebrado no caso do gabinete de Flávio Bolsonaro.
Outros parentes com quebra de sigilo
Em outra gravação, Andrea Valle contou que um coronel da reserva do Exército, ex-colega do presidente na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), atuou no recolhimento de salários dela, no período em que constava como assessora do antigo gabinete de Flávio na Alerj.
O nome do militar é Guilherme dos Santos Hudson, ele é pai do advogado Guilherme de Siqueira Hudson, que constou como chefe de gabinete de Carlos após o fim do casamento de Ana Cristina e Jair Bolsonaro. Ele é primo da ex-mulher do presidente.
Guilherme de Siqueira Hudson e sua mulher, a professora Ananda Hudson, tiveram o sigilo quebrado junto com a educadora Monique Hudson, cunhada de Guilherme. Apesar de constarem como assessores de Carlos, os três sempre moraram em Resende, cidade do Sul do estado do Rio de Janeiro e as duas mulheres fizeram faculdade no local no mesmo período em que estavam nomeadas na Câmara.
Em fevereiro de 2020, reportagem desta colunista, no jornal O Globo, mostrou imagens que identificaram o coronel Guilherme Hudson e, seu filho, o advogado Guilherme de Siqueira Hudson entrando no gabinete de Carlos Bolsonaro no dia 30 de outubro de 2019. Na semana seguinte, ele foi ao MP-RJ prestar depoimento na investigação do gabinete.
O núcleo de Ana Cristina Valle ainda é conectado na investigação por Cileide Mendes que constou como assessora de Carlos entre 2001 e 2019. Ela, porém, foi babá dos filhos de Ana Cristina. O caso dela foi revelado pela Folha.
A coluna pediu posicionamento de Guilherme, Ananda e Marta Valle, mas não obteve retorno até o momento da publicação. Não foi possível ter contato com Monique Hudson e Gilmar Marques.
Nota de Carlos Bolsonaro
“Na falta de fatos novos, requentam os velhos que obviamente não chegaram a lugar nenhum e trocam a embalagem para empurrar adiante a narrativa. Aos perdedores, frustrados por não ser o que sempre foram, restou apenas manipular e mentir. É o que mais acusam e o que mais fazem”.
Nota da defesa de Ana Cristina Valle
“A defesa de Ana Cristina Siqueira Valle informa que apenas se manifestará nos autos do processo uma vez que o mesmo tramita em segredo de justiça. No entanto, não podemos deixar de repudiar o vazamento de informações, prática esta que tem se tornando cada vez mais frequente”.
JULIANA DA PIVA ” SITE DO UOL” ( BRASIL)