LISBOA EXIBE O UNIVERSO LUSO NA ÁSIA

  • A vocação, intrinsicamente, cosmopolita e imperial de Portugal, está presente em todos os momentos da rica trajetória do País. Fácil de se constatar ao longo das obras de seus primorosos historiadores, dentre os quais, os lisboetas Alexandre Herculano (1810 – 1877) e Oliveira Martins (1845 – 1894) – dois dos mestres do esplendor das letras portuguesas no século XIX.
  • Também celebrados historiadores europeus reverenciam o universalismo lusitano. Como o espanhol Salvador de Madariaga (1886 – 1978), galego de La Coruña, o inglês Charles Boxer (1904 – 2000), nascido numa ilha do Canal da Mancha, e o francês Fernand Braudel (1902 – 1985), natural da franco-germânica Lorena.
  • Portugal já teve, inclusive, uma soberana, Dona Maria II (1819 – 1853), nascida no Rio de Janeiro, no Paço Imperial de São Cristóvão, filha de Dom Pedro, que cá é I e, lá, é IV.
  • Ainda na metrópole carioca veio ao mundo o terceiro dos presidentes da República portuguesa, Bernardino Machado (1851 – 1944), que chefiou o Estado em duas oportunidades – a primeira, de outubro de 1915 a dezembro de 1917, e, posteriormente, de dezembro de 1925 a maio de 1926.
  • E, desde 25 de novembro de 2015, é Primeiro-Ministro o luso-indiano António da Costa, de 60 anos, nascido na periferia da capital portuguesa, no berço de uma família proveniente da cidade de Goa, na Índia, antiga sede do Império Português do Oriente.
  • O cosmopolitismo português está sendo exaltado, nestes dias, em Lisboa, no seu monumental Museu do Oriente, ancorado às margens do Rio Tejo, com a mostra “Histórias de um Império”, documentando os profundos vínculos artísticos existentes entre Portugal e as culturas dos países asiáticos.    
  •  A exposição reúne cerca de 200 das mais preciosas peças pertencentes ao empresário Álvaro Sequeira Pinto, 60 anos, natural do Porto, intitulada “Coleção Távora Sequeira Pinto”, seu pai, ambos apaixonados pela Índia e pela presença portuguesa na Ásia. Ele começou há três décadas a ‘garimpar’ objetos em todo o velho Império Português do Oriente – e mesmo na Metrópole.
  • Amostra destaca, como promete, das lacas japonesas aos marfins goeses, do mobiliário indiano às porcelanas chinesas. O acervo de Sequeira Pinto evidencia uma diversidade muito alargada de origens, tipologias e materiais, preservando, contudo, os modelos europeus adotados nas oficinas na Ásia – como enfatiza o curador do evento, Nuno Vassalo e Silva, no detalhado catálogo à venda no Museu do Oriente – conforme foto que ilustra a coluna.  “Será, porventura, o diálogo permanente entre o Ocidente e o Oriente que melhor identifica a coleção” – explica.
  • Em oito núcleos diferentes, evitando uma leitura tradicional e redutora, sobretudo no âmbito cronológico e geográfico, a mostra revela, segundo Vassalo e Silva, a riqueza e a complexidade da arte produzida nas redes criadas por Portugal. “Trata-se de um verdadeiro ensaio visual e, por isso, a coleção é notável e irá, certamente, surpreender o público, bem como reforçar o entendimento dos primeiros séculos de Portugal na Ásia e as suas relações com a Europa daqueles tempos” – afirma.
  • A exposição foi inaugurada no dia dois de julho último e poderá ser visitada até dois de outubro de 2022.      A abrangência da Coleção, exibida agora no Museu do Oriente, demonstra aos olhos do mundo, mais uma vez, ontem como hoje, o quanto Portugal avançou, mar adentro, não só na Era dos Descobrimentos, na Idade Moderna (1453 – 1789). Da Ásia às Áfricas e às Américas. Sem jamais perder a ternura de seus brandos modos que marcam a presença em todo o planeta. E na sua própria milenar metrópole.   
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ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

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