Numa operação alimentada pela imensa comoção interna produzida pelo atentado de 11 de setembro de 2001, as tropas estadunidenses e de um reduzido conjunto de aliados começaram a desembarcar no Afeganistão meses depois do ataque às Torres Gêmeas de Nova York.
Vinte anos depois, o balanço mostra uma tragédia anunciada, que só contribuiu para agravar o atraso social e a pobreza do país.
Num processo que lembra a guerra do Vietnã, a operação encerra-se sob o repúdio geral da própria população dos Estados Unidos — mais 70% dos eleitores pedem a retirada das tropas do país.
Outros dados também são significativos. O número oficial de mortos pela guerra é calculado em 174 000, com índices de fatalidade em prejuízo da população local — conforme levantamento da Universidade de Brown, perto de 90% das vítimas fatais eram afegãs.
A devastação produzida pela guerra provocou o deslocamento de 5,7 milhões de refugiados, forçados a mudar-se por falta de emprego ou casa, em geral nem uma coisa nem outra.
Quanto à política local, a presença de novos colonizadores cumpriu um papel previsível: só ajudou a reforçar esquemas corruptos de dominação política.
A intervenção norte-americana em nada contribuiu para a necessária evolução democrática do país, com um receio particular pelos direitos das mulheres, que ali enfrentam um dos regimes mais opressivos do planeta.
Haverá muito a ser feito depois da partida dos invasores, portanto.
Ensaio para uma aventura ainda mais terrível, custosa e devastadora — a invasão do Iraque –, a operação no Afeganistão custou 486 bilhões de dólares, encerrando-se com uma lição sempre atual da diplomacia.
Por mais poderosos que sejam seus exércitos, nenhum império tem o direito de desprezar a autonomia de povos e países — e assim as tropas estadunidenses vão embora do Afeganistão sem deixar nenhum saldo aproveitável após vinte anos de ocupação.
Uma vergonha, quando se compara um PIB per capta de U$ 65.297, para os EUA, contra U$ 507 para os afegãos.
PAULO MOREIRA LEITE ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)