AFEGANISTÃO: O CEMITÉRIO DOS IMPÉRIOS

” LA REPUBBLICA” ( ITÁLIA)

Ao tentar explicar uma das maiores humilhações em política externa em anos, o presidente Joe Biden lembrou nesta segunda-feira que o Afeganistão é também conhecido como “o cemitério de impérios”. A história, de fato, confirma tal fama e a frase é tão antiga que não há um consenso sequer sobre quem a teria cunhado.

Com tribos organizadas em uma lógica de autodefesa, com uma topografia ingrata ao invasor e com uma história de resistência, a região tem um percurso que se confunde com o trauma de potências que, uma após outra, descobriram que a vitória jamais está assegurada nas montanhas do país no centro da Ásia.

Alexandre o Grande por pouco não caiu na cilada afegã. Ainda no século 8, quando os árabes decidiram tomar Kandahar, o grupo de 20 mil soldados foi praticamente aniquilado. Apenas 5 mil sobreviveram. A islamização do Afeganistão, assim, levou dois séculos para ocorrer. E, mesmo quando foi realizada, algumas das regiões do país conseguiram resistir por mais cem anos.

O império Mongol também descobriu que não seria uma batalha fácil. Foi em terras afegãs que o neto de Genghis Khan seria morto, no século 13. Outros também fracassaram em dominar a região nos séculos seguintes.

O Afeganistão dito “moderno” foi estabelecido em 1747. Mas, desde então outros tantos foram os impérios que descobriram como os vales são traiçoeiros.

Entre 1839 e 1842, foi a vez do Império Britânico descobrir que não havia como vencer. Nos 80 anos seguintes, Londres tentou mais duas vezes. Exaustos, os britânicos desistiram e deram, em 1919, a independência ao país.

Em 1979, depois de conquistar e estabilizar pela força parte importante da Ásia Central, os soviéticos acreditavam que o Afeganistão seria apenas mais um capítulo da expansão da URSS. Dez anos depois, foram obrigados a abandonar a região, com sua credibilidade destruída.

Agora, os EUA deixam o Afeganistão depois de ter despejado sobre o país mais dinheiro do que destinaram para a reconstrução da Europa, depois da Segunda Guerra Mundial. Não por acaso, um ditado popular no país alerta aos estrangeiros: “vocês têm relógios. Nós temos tempo”.

JAMIL CHADE ” SITE DO UOL” ( GENEBRA/ BRASIL)

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