- Lisboa é, sem dúvida, uma das mais preciosas metrópoles imperiais da Europa – síntese de uma nação que, com suas extraordinárias caravelas, a desfraldar a Cruz de Cristo em seus mastros, esteve presente em todos os continentes do planeta. Uma pequenina pátria fincada, geograficamente, no ponto extremo ocidental do Velho Mundo, debruçada sobre o Atlântico – e que revelaria, a partir da Idade Moderna (1453 – 1789), tantos novos mundos ao mundo.
- Lisboa já é, em si, um soberbo monumento, à beira mar plantado, que torna a União Europeia mais rica, ousada, cosmopolita e romântica. E, dentre os monumentos que admiro na capital portuguesa, está a esplêndida obra do escultor António Teixeira Lopes (1866 – 1942), em pedra lioz, na qual o escritor Eça de Queiroz (1845 – 1900) aparece a fazer a corte à “Verdade”, retratada como uma ninfeta nua, inaugurada em 1903, no jardim do Largo Barão de Quintela, próxima ao Chiado, entre as ruas do Alecrim e das Flores, que ligam, ladeira acima, o Cais do Sodré ao Bairro Alto. A lânguida estátua, com a figura alegórica da “Verdade”, está instalada em um dos cenários lisboetas prediletos dos livros de Eça de Queiroz, que, embora nascido à Póvoa do Varzim, ao Norte do Porto, viveu e descreveu, como ninguém, o universo da Metrópole na segunda metade do século XIX.
- É exatamente ali, naquela área, que foi ambientado o mais celebrado de seus romances, “Os Maias”, cuja trama original, com o título “A Tragédia da Rua das Flores”, só seria publicada oito décadas após sua morte – em 1980.
- Teve trajetória parecida o escultor Teixeira Lopes, natural de Vila Nova de Gaia, cidade diante do Porto, separada apenas pelas águas do Rio Douro, que tem no trabalho dedicado a Eça de Queiroz, uma de suas obras mais festejadas. O monumento de Teixeira Lopes, como acontece nas criações públicas dos grandes artistas, teve algumas poucas réplicas oficiais. Quase todas reproduzem somente o busto com olhar do escritor e seu marcante bigode.
- Uma dessas relíquias encontra-se no Gabinete Português de Leitura de Pernambuco, do qual, orgulhosamente, sou sócio e conselheiro – e pode ser apreciada agora pelo público, porque integra o Museu do Turismo no Brasil, com sede é no andar térreo da prestigiosa entidade, à Rua do Imperador Pedro II, às margens do Rio Capibaribe.
- Ilustra a coluna uma foto minha ao lado do Eça do Gabinete de Pernambuco – uma instituições mais antigas do País. Foi fundado em 1850 pela vigorosa comunidade portuguesa que lá estabeleceu raízes desde os primeiros anos do século XVI. Existem ainda dois outros gabinetes semelhantes no Brasil – e com o mesmo nome: o do Rio de Janeiro e o da Bahia. Há também o Grêmio Literário, de Belém do Pará, e o Centro Cultural, de Santos, em São Paulo – para além, é claro, da grandiosa Casa de Portugal, à Avenida da Liberdade, na capital paulista.
- Todos preservam, sobretudo, a memória bibliográfica das edições portuguesas, bem como de várias peças artísticas. A exemplo da réplica do monumento a Eça de Queiroz, incorporada ao Museu do Turismo.
- Devo confessar, aqui, que tive o privilégio de adquirir uma das réplicas de Teixeira Lopes, em 1985, na Feira de Antiguidades do MASP (Museu de Arte de São Paulo), quando morava na Europa e visitava, ocasionalmente, a cidade. Essa joia da escultura portuguesa está no alto do salão que antecede minha biblioteca no bairro paulistano de Higienópolis.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador