Supondo famílias de baixíssima renda, em que a Alimentação representa, digamos, 60% de seus gastos mensais. Nesse caso, o impacto da alta equivaleria a uma inflação de 7,70% apenas nesse ítem, sem contar os impactos da alta de aluguéis e transportes.
A história ainda haverá de fazer justiça a Paulo Guedes, e entronizá-lo como o pior Ministro da Economia da história. A sucessão de atos errados e omissões amplificou enormemente a crise provocada pelos erros das políticas de saúde.
O primeiro grande erro foi não ter impedido a dolarização dos preços de commodities – especialmente alimentos e combustível. Houve um impacto imediato nos preços ao produtor e no Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), que serve de parâmetro para a fixação da taxa básica de juros.
Qualquer Ministro, com um mínimo de capacidade de análise, trataria de reduzir os danos, seja atuando sobre o mercado de câmbio, ou impondo taxas de exportação ou – no caso do petróleo – obrigando a Petrobrás a usar como referencial de preços os custos de prospecção.
As altas impactaram diretamente a mesa dos pobres, criando uma tragédia humanitária sem paralelo no país. Além disso, trouxeram de volta a inflação levando o BC a aumentar os juros, com impacto direto sobre a dívida pública.
Não fica nisso sua inércia. O principal setor da economia, o automobilístico, está parando devido à falta de chips. Pelas implicações na cadeia produtiva, no emprego e na arrecadação fiscal, trata-se de um problema de país. Não se viu um movimento sequer de Guedes para sequer analisar o problema. Nisso, é extremamente parecido com Bolsonaro, se se eximir de qualquer responsabilidade em relação ao país, como se fossem observadores anônimos de cenários.
Abaixo, um pequeno levantamento do IPC-15 de julho – a prévia do IPCA.
No mês, a alta foi de 0,72%. A última vez que o índice de julho bateu nesse patamar foi em 2015, com a economia abalada pelos choques de câmbio e tarifa do pacote Joaquim Levy.
No IPCA-15, a maior variação anual foi de Transportes, Artigos de Residência, Alimentação e Bebidas e Habitação.
Quando se analisa sob a ótica do impacto no índice final, percebe-se que, dos 8,59% de alta em 12 meses, 3,02% foram decorrência da alta dos combustíveis, 2,60% de Alimentos e 1,57% de Habitação.
Quando se desdobram os gastos com Habitação, 0,35% foram decorrência do Aluguel – diretamente impactado pelo câmbio, por ser corrigido pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), com forte influência do câmbio.
No ítem Transportes, Combustíveis de Veículos registraram 46,8% de aumento, com impacto sobre toda a cadeia de transportes e, por consequência, sobre os custos das mercadorias.
No subgrupo Alimentos no Domicílio fica claro o impacto do câmbio. No acumulado de 12 meses, a alta foi de 15,26%. Diretamente impactados pelo câmbio e pelas cotações internacionais, Óleos e Gorduras aumentaram 55%, carnes aumentaram 35,13% e Cereais e Leguminosas 30,39%
Analisando-se o impacto sobre o IPCA, Alimentação afetou em 2,17% o índice acumulado. Nela, só a carne impactou em 0,92% e Cereais e Leguminosas em 0,25.
Repare que esses dados se referem ao IPCA como um todo, com uma grande gama de serviços que ajudam a derrubar o índice final. Para famílias de baixa renda Alimentos e Aluguel têm um peso expressivo.
No IPCA geral, Alimentos e Bebidas tem peso de 20%. Portanto, a alta de 12,83%têm um impacto de 2,60% no índice final. Supondo famílias de baixíssima renda, em que a Alimentação representa, digamos, 60% de seus gastos mensais. Nesse caso, o impacto da alta equivaleria a uma inflação de 7,70% apenas nesse ítem, sem contar os impactos da alta de aluguéis e transportes.
Esse dados explica a terrível tragédia de familias nao conseguindo sequer ter renda para alimentação básica.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)