O ESCÂNDALO DA COVAXIN TIROU O CHÃO DE BOLSONARO

CHARGE DE AROEIRA

Ao anunciar processo contra delator, Lorenzoni revela perseguição estatal digna de ditaduras


Há várias formas de medir a dimensão de um escândalo político. Os mais comuns são a proximidade do delator ao político alvo do episódio, a plausabilidade da acusação, a possibilidade de que surjam outras, a independência dos investigadores, o destaque da mídia para o caso e o valor de recursos públicos supostamente desviados. Um fator a ser levado em conta, porém, é a reação do acusado. Por esse critério, o escândalo da compra das vacinas Covaxin é o mais grave da gestão Bolsonaro desde a prisão no ano passado do ex-policial militar Fabrício Queiroz, investigado como sócio de um esquema de corrupção com o filho mais velho do presidente.

A reação desproporcional do governo dá pistas do desespero. O ministro da Secretaria Geral, Onyx Lorenzoni, chamou os jornalistas para anunciar a abertura de inquérito na Polícia Federal e da Controladoria Geral da República contra o servidor público Luis Ricardo Miranda, chefe do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde e que levou o relato de lobby da Covaxin para o próprio Bolsonaro e, depois, para a Procuradoria Geral da República. Como em uma ditadura, Lorenzoni anunciou o uso da máquina do Estado para perseguir o servidor e ainda se recusou a responder perguntas dos repórteres.

“Não existe nenhuma irregularidade, existe o trabalho correto que foi feito pelo ministro Pazuello”, decretou Lorenzoni, referindo-se ao general que ocupava o Ministério da Saúde à época da aprovação da compra das vacinas Covaxin. Como o jagunço de um coronel político todo-poderoso, Lorenzoni deu um exemplo prático de como Bolsonaro está desmontando as instituições e colocando-as para trabalhar para ele. Qual a diferença deste procedimento com o de governo autoritários como os da Rússia ou Venezuela? Nenhuma.

No mesmo dia, Bolsonaro anunciou a demissão do ministro mais odiado, Ricardo Salles, do meio ambiente. Salles caiu depois de ser investigado pela PF em um esquema de corrupção e, por isso, o governo dos EUA congelarem as negociações para acordos ambientais. A saída de Salles no mesmo dia da denúncia, no entanto, foi para tentar desviar a atenção do público, usando a mesma tática da demissão do ministro da educação, Abraham Weintraub, quando Fabrício Queiroz foi preso.

Buscar a cabeça de Luis Ricardo Miranda e entregar a cabeça de Salles no mesmo dia é tentar tirar a investigação do alvo, o próprio Bolsonaro. Irmão de Luis Ricardo Miranda e aliado do governo no Congresso, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou ter levado a suspeita sobre um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin ao próprio presidente em 20 de março, cerca de um mês após o contrato ter sido assinado. Segundo o relato do deputado, o presidente disse que levaria o caso à Polícia Federal. Nada aconteceu.

O contrato determina pagar um preço por vacina 1000% a mais do que a oferta da própria empresa 6 meses antes. Cada dose da vacina Covaxin custa aos cofres públicos 25% a mais que as vacinas da Pfizer. As vacinas indianas Covaxin são representadas no Brasil pelo empresário Francisco Emerson Maximiano, amigo do presidente. O contrato superfaturado é de R$ 1,6 bilhão. O caso Covaxin desmonta a narrativa do presidente de que havia recusado as ofertas da Pfizer por preço e por falta de autorização. Ao contrário da Pfizer, que enviou mais de 80 emails para fechar o negócio, a Covaxin resolveu a compra em menos de 2 meses por R$ 80 a dose. O primeiro lote da Pfizer saiu por R$ 58 a dose.

THOMAS TAUMANN ” BLOG PODER 360″ ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *