A Cidade do Rio de Janeiro foi capital do Brasil por 197 anos, depois que Salvador teve esse papel por 214 anos. E como toda metrópole que se transforma, gerou novos hábitos, comportamentos, elites e instituições.
A imprensa escrita foi uma destas instituições que se desenvolveu no período. Dezenas de jornais, matutinos e vespertinos, foram criados e ser dono de jornal virou negócio.
Ser a favor ou contra os poderosos de plantão determina a sobrevivência do negócio.
Os Marinhos entraram no ramo em 1911, quando Irineu Marinho, pai de Roberto,lança o vespertino ” A Noite”, que chega a ter 7 edições diárias após 17:30 e vender 200 mil exemplares.
No ano de 1925, Irineu Marinho desliga-se de seu empreendimento jornalístico vitorioso, quando descobre que seu sócio Geraldo Rocha, em sua ausência, estava planejando transformá-lo em parceiro minoritário.
No mesmo ano, em 29 de julho lança ” O Globo” e morre 21 dias depois, sendo sucedido por seu filho Roberto Marinho, que era repórter do jornal e secretário particular do pai.
Roberto Marinho transfere o comando do jornal para Euclides de Matos, homem de confiança de seu pai, e só assume em 1931, após o falecimento de Euclides.
Enquanto o Correio da Manhã (Edmundo Bittencourt,1901), Diário Carioca ( José Carlos de Macedo Soares,1928) e o Jornal do Brasil ( Rodolfo de Souza Dantas, 1891 ) se transformam em jornais de oposição e prestígio, os veículos Diário da Noite ( Diários Associados, 1929) e O Jornal ( Diários Associados, 1924) viram moeda de barganha de Assis Chateaubriand para obter dos governantes de plantão o atendimento de seus interesses.
O Globo cresce e os Marinhos mantém bom diálogo com os poderosos de plantão.
Os Mesquitas, em São Paulo, transformam o jornal ” O Estado de S.Paulo” no mais temido pelos dono do poder. Hoje, na mãos de financistas, é irrelevante.
A Tribuna da Imprensa ( Carlos Lacerda, 1949) e a Ultima Hora ( Samuel Wainer, 1951) entram no mercado na disputa pelos leitores da capital da República.
Com o tempo, os jornais cariocas vão desaparecendo e a publicação dos Marinhos ocupam o espaço nas bancas e a preferência dos cariocas.
O Jornal do Brasil é o último jornal carioca a morrer em 2010, por razões administrativas e financeiras.
Em 1971, com a contratação do jornalista Evandro Carlos de Andrade, ex-Diário Carioca e ” O Estado de São Paulo, os Marinhos começam a modernizar O Globo.
Em seus primeiros movimentos, Evandro vai em busca dos jornalistas de prestígio do Jornal do Brasil, formando um time de veteranos ( Zuenir Ventura, Elio Gaspari e Luis Fernando Verissimo) e jovens talentos ( Artur Xexéo, Joaquim Ferreira dos Santos, Artur Dapiave, Ricardo Boechat e Anselmo Goes) que passará a ser a fórmula de sucesso da publicação. E faz o jornal mudar de vespertino para matutino..
O ano de 1995 marca a contratação do designer americano Milton Glaser que cria tipologias exclusivas para O Globo e dá uma nova cara visual para a publicação.
No mesmo ano, Evandro Carlos de Andrade se transfere para a Central Globo de Jornalismo da Rede Globo onde implanta a Globo News, mas deixa a redação de O Globo nas mãos de um time de profissionais tarimbados como Henrique Caban, Milton Coelho da Graça, José Augusto Ribeiro e Lus Garcia. .
Nos anos 90, com o sucesso da Rede Globo, os Marinhos tomam consciência que tinham um poder sem igual diante dos donos do poder.
E abandonam a posição de colaboradores dos governos e passam a fazer a cabeça de quem manda nas instituições.
Do ponto de vista editorial, O Globo é o jornal impresso da mídia corporativa brasileira com textos mais bem escritos, editados e apresentados. E conquista o mercado nacional.
Com a morte Evandro Carlos de Andrade em 2001, ele foi sucedido por Rodolfo Fernandes, filho de Hélio Fernandes da Tribuna da Imprensa.
Roberto Marinho morre em 2003, e seus três filhos não foram capazes de manter a influência adquirida, mas tentam manipular a opinião pública nacional, criando versões denominadas ” o pensamento único”, transmitidas nacionalmente como a verdade dos fatos.
Ascânio Seleme assumiu em 2011 com a morte de Rodolfo Fernandes e é substituído por Alan Gripp em 2018.
E a receita editorial criada por Evandro Carlos de Andrade continua sendo aplicada com êxito: novos talentos, profissionais tarimbados, articulistas especializados de diversas correntes ideológicas, colunistas e muita reportagem.
PS: Quarto episódio sobre a imprensa brasileira
PATRÍCIO BENTES ” ALLTV” ( BRASIL)
Patrício Bentes é jornalista e sociólogo