Prepare-se para uma semana politicamente conturbada.
O quadro que se apresenta é o seguinte. O presidente Jair Bolsonaro pagou para ver, em relação ao julgamento do general Eduardo Pazuello pelo Alto Comando. O Comandante do Exército refugou e amargou – ele e sua corporação – o mais grave desastre público em muitas décadas.
Cria-se uma situação de absoluta instabilidade, com reflexos nas Policiais Militares estaduais, no guarda da esquina e na base do Exército. Em cima da vitória, a tendência de Bolsonaro será se tornar cada vez mais ousado. Por isso mesmo, haverá uma reação natural das instituições.
Terão que ser decisões que não poderão ser boicotadas pelas corporações públicas. Há uma enorme relação de episódios em que as instituições procrastinaram:
1. As Forças Armadas jogaram com manobras burocráticas para não levar auxílio médico às populações indígenas. Alegaram falta de orçamento.
2. Fizeram o mesmo para não atender o pedido da Polícia Federal, de uma força nacional para impedir os abusos de garimpeiros.
3. A Polícia Federal passou um ano investigando as campanhas de ódio na Internet e, depois de todo esse período, ainda solicitou um prazo extra para aprofundar investigações sobre o financiamento dos influenciadores bolsonaristas. Ou seja, mesmo tendo o COAF e a cooperação internacional, não levantaram o essencial.
4. Por sua vez, a Procuradoria Geral da República afastou de si o cálice amargo, não concedendo o prazo adicional exigido pela PF.
5. A Controladoria Geral da União (CGU) e a Polícia Federal estão boicotando todos os pedidos feitos pela CPI do Covid.
Por tudo isso, terão que ser tomadas decisões que confrontem Bolsonaro e não sejam boicotadas por estratagemas burocráticos.
Duas estão em andamento>:
1. Possível prisão de Ricardo Salles.
Não se surpreenda se o Ministro Alexandre de Moraes ordenar a prisão do Ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente. As investigações avançaram e há motivos jurídicos para tal. Faltava o componente político. Agora se tem.
2. Denúncias de corrupção
Esta semana a CPI da Covid deverá jogar luz sobre a parte mais delicada da política de saúde de Bolsonaro: as suspeitas em torno das negociações de vacinas e tratamentos alternativos. O atraso na compra das vacinas, provavelmente, não visava apenas a chamada imunização de rebanho, mas abrir espaço para grandes negócios de intermediação.
Além disso, não se menospreze a possibilidade de delações de Salles e dos irmãos Weintraub – o ex-Ministro da Educação e seu irmão, o ex-assessor especial de Bolsonaro.
Bolsonaro tem uma tradição de apunhalar antigos aliados. A solidariedade a Pazuello foi estritamente utilitária, para não enfraquecê-lo junto aos militares e junto à própria CPI – já que sempre foi visto como o chefe absoluto de Pazuello.
Mas Salles e os Weintraub não sentiram firmeza na suposta solidariedade de Bolsonaro. Dias atrás, os dois irmãos protagonizaram um vídeo pungente, tentando justificar sua participação no tal tratamento precoce do Covid.
Mais objetivo, Salles jogou na fogueira o próprio general Luiz Eduardo Ramos. Segundo ele, sua participação na liberação da madeira exportada por grupos criminosos foi por orientação direta de Ramos.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)