Por outro lado, a redução do isolamento foi forçada especialmente pela falta de ajuda pública – o que aumentou substancialmente casos e óbitos. O problema é que essa leniência tem impactos na possibilidade de uma terceira onda.
O cenário econômico continua nebuloso, atrapalhado por dois eventos.
O primeiro, resultados positivos de alguns grandes grupos com a alta das commodities. O segundo, a criação de um clima de expectativa positiva como colchão para alimentar politicamente a votação no Congresso pela privatização da Eletrobras.
Em relação às cotações de commodities há um evidente descompasso entre o mercado e o preço médio das exportações brasileiras.
Tome-se o caso do minério de ferro. Nos últimos 12 meses houve uma alta expressiva nos mercados, sendo de 84 dólares para 210 dólares a tonelada.
Por outro lado, quando se levanta o preço médio das exportações de minério de ferro, não se percebe essa alta. Em relação a janeiro de 2021, outubro de 2020, julho de 2020 e abril de 2020 houve quedas respectivamente de 26,4%, 30,6%, 45.7% e 48%.
Em relação à soja, a mesma discrepância. Nas bolsas, as cotações alteram de 887 dólares para 1.545.
Nas estatísticas de exportação, o preço médio caiu 13,8% em relação a janeiro e 2,8% em relação a outubro. Depois, registrou alta de 22,5% em relação a julho de 2020 e de 54,7% sobre abril de 2020.
Há inúmeras explicações para esse descompasso. De qualquer modo, mesmo medindo em reais houve aumento devido à desvalorização cambial dos últimos anos.
A partir daí, criou-se uma sensação otimista, baseada em duas hipóteses:
1. A manutenção dos ganhos com commodities.
2. Um suposto menor isolamento das pessoas, que ajudou a estimular a economia.
Há um enorme conjunto de outros fatores a serem considerados.
O primeiro, o impacto da alta das cotações sobre a inflação – e, consequentemente, sobre o poder aquisitivo do consumidor.
O segundo, o impacto das commodities sobre a cadeia produtiva. As empresas adquirem matéria prima com cotações elevadas. Em um primeiro momento, conseguiram repassar para os preços, enquanto a renda básica garantiu. Desde final do ano passado, não houve mais espaço para os repasses. A consequência é o aumento de problemas para as diversas cadeias produtivas, especialmente pequenas e médias empresas.
Por outro lado, a redução do isolamento foi forçada especialmente pela falta de ajuda pública – o que aumentou substancialmente casos e óbitos. O problema é que essa leniência tem impactos na possibilidade de uma terceira onda.
Confira os últimos dados de São Paulo, o estado com maior concentração de Covid. Desde 10 de maio há um crescimento consistente da média diária de casos.
Portanto, há uma série de vulnerabilidades, e quase nenhum fator de dinamismo. O desemprego continua alta, há pressões de custos e desarranjo em várias cadeias produtivas, uma queda de renda que não será reposta pela nenhuma renda emergencial.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)