No acumulado de 12 meses, fica mais nítido o estrago causado pela combinação de desvalorização cambial com explosão das cotações internacionais de commodities.
O Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) tornou-se o indicador mais acompanhado pelo mercado, por servir de referência para a política de metas inflacionárias.
Mas não é o que capta melhor as oscilações de preços. Isso porque grande parte do índice vem do setor de serviços, diretamente afetado pela recessão.
A melhor medida são os indicadores de preços de produtos, como o Índice de Preços no Atacado (IPA) da Fundação Getulio Vargas.
Medida pouco acompanhada é o Índice de Preços ao Produtor (IPP) levantado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), melhor indicador de curto prazo sobre os rumos da inflação.
O IPP analisa os preços por três ângulos diferentes: os subsetores da Indústria Extrativa, da Indústria de Transformação e as Grandes Categorias Econômicas.
As pressões estão disseminadas pelos diversos setores.
Apenas no mês de março houve aumento de preços em 21 setores e quedas em apenas 2. As altas impactaram setores com maior capacidade de disseminação de preços, o de resinas, produtos químicos inorgânicos e siderurgia.
No acumulado de 12 meses, fica mais nítido o estrago causado pela combinação de desvalorização cambial com explosão das cotações internacionais de commodities.
No Grupo da Indústria de Transformação repete-se o mesmo movimento. Em março houve alta em 23 setores e queda em apenas um. Da mesma maneira, a alta alcançou produtos centrais para a indústria de transformação – derivados de petróleo, produtos químicos e produtos de madeira. Não houve quedas, apenas estabilidade.
Já em relação ao acumulado de 12 meses, o quadro é caótico, com setores como metalurgia, químicos, madeira e coque com altas acima de 30%.
Nas Grandes Categorias, no mês de março houve aumento de 3,4% nos bens de capital e estabilização nos demais. No acumulado de 12 meses, houve um aumento de 27,4% na indústria em geral.
Houve dois efeitos desse movimento.
O primeiro, foi o repasse aos preços, pressionando até o IPCA. O segundo, foi a queda nas vendas impedindo o repasse para o preço final. Nesse caso, a resultante foi o prejuízo e até o fechamento de empresas.
Em ambos os casos, houve a completa inação do Ministério da Economia. Não atuou para amenizar os impactos dos preços internacionais e do câmbio; não tem atuado para corrigir os problemas de quebra em várias cadeias de fornecimento. E, com a demora em definir a renda emergencial – e o baixo valor da segunda etapa -, ampliou a recessão.
Criou-se, assim, a mistura de inflação com recessão, mais conhecida por estagflação.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)