CHARGE DE NANDO MOTTA
Enquanto a platéia se distrai com a CPI e as aglomerações e arreganhos de Jair Bolsonaro, os movimentos políticos mais importantes vão se desenrolando em modelo iceberg – a gente vê a ponta, mas não tem ideia do tamanho das coisas abaixo da superfície, e nem de seu alcance. O road show de Lula em Brasília na semana passada, por exemplo, avançou bem mais do que se imagina na formação de uma frente das esquerdas com parte do centro para 2022.
Nas conversas com caciques de partidos desse campo, como Gilberto Kassab (PDS), Rodrigo Maia (em transição do DEM para o PDS), José Sarney (MDB), Eunício Oliveira (CE) e outros, Lula acenou com o que interessa: o PT vai abrir mão de candidaturas a governos estaduais onde seus futuros parceiros tiverem nomes fortes, em troca de seu apoio nacional. Isso deve acontecer em dois dos três principais colégios eleitorais do país, o Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Com isso, o petista abre diálogo tanto com forças de esquerda, como o PSOL e o PSB, que tendem a se aglutinar em torno de Marcelo Freixo para governador do Rio e avança muitas casas no jogo para conquistar o PSD de Gilberto Kassab. Em Minas, o candidato deverá ser o atual prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Em Pernambuco, o acordo é com o PSB, e em outros estados do Nordeste, com o MDB. Por enquanto, nenhum desses partidos admite abertamente a aliança. Kassab diz que lançará candidato a presidente. Mas, se as coisas continuarem nesse rumo, PSD e MDB vão desembocar na candidatura do petista.
Nesses entendimentos, o PT pode ficar com a candidatura ao Senado, com as vices ou até mesmo com a possibilidade de eleger chapas fortes para a Câmara dos Deputados. Depois de tantos anos no poder, Lula está convencido da importância de eleger maioria no Congresso para governar no presidencialismo à brasileira.
Também Jair Bolsonaro trabalha para 2022 – aliás, só trabalha. Ainda sem partido, e na perspectiva de se filiar a uma legenda nanica para chamar de sua, o presidente tenta consolidar o apoio de partidos médios e grandes do Centrão que podem lhe garantir tempo de TV na campanha: PP e Republicanos, sobretudo. Além de postos no governo, Bolsonaro tem feito farta distribuição de verbas e emendas para parlamentares dessas legendas e fim de manter sua fidelidade.
Mas há controvérsias se o Centrão estará mesmo no palanque do presidente da República se a sua popularidade despencar muito até lá. Aí vem o outro lado da estratégia: manter o discurso radical e ativar suas milícias nas redes. A guerra mal começou.
HELENA CHAGAS ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)