- Um dos maiores vultos ibéricos da epopeia da Era dos Descobrimentos foi o admirável jesuíta espanhol, São Francisco Xavier (1506 – 1552), nascido no antigo Reino de Navarra, berço histórico do atual País Basco, considerado o Grande Apóstolo da Ásia na Idade Moderna – enviado ao Extremo Oriente no século XVI pelo Padroado de Lisboa.
- Embarcado na companhia de notáveis navegadores e até de poetas, pais da língua portuguesa, como Luis de Camões (1524 – 1580) e Fernão Mendes (1509 – 1593), São Francisco Xavier seria, com efeito, o grande conversor ao Catolicismo de vários povos da Índia, Malásia, China e Japão. Contribuiria para fundação naqueles países, inclusive, cidades que viriam a ser importantes ao longo dos séculos seguintes. Como a indiana Goa, a malasiana Malaca, a chinesa Macau e a japonesa Nagasaki.
- Ele mesmo tinha sido um dos criadores da Companhia de Jesus, em 1534, liderado por outro prelado espanhol, Inácio de Loyola (1491 – 1556), igualmente basco. Os jesuítas se destacaram pela extraordinária expansão da fé, a partir dos feitos marítimos lusitanos, bem como dos da Coroa de Castela, não só na Ásia, mas, principalmente, nas Américas e nas Áfricas.
- E, por isso, ao ser eleito Papa, no Conclave de 14 de março de 2013, o argentino Jorge Mario Bergoglio, aos 77 anos de idade, adotou o nome de Francisco. Poucos sabem sobre São Francisco Xavier, entretanto, é que ele, para além de Apóstolo dos cristãos asiáticos, também se tornou baianíssimo, há 335 anos, ao ser consagrado, desde 10 de maio de 1686, Padroeiro de Salvador, à época, capital da Colônia Portuguesa das Américas.
- Nesta coluna especial de hoje, aqui, em PORTUGAL EM FOCO, na qual tenho a honra de festejar exatos 10 anos de Mundos ao Mundo, presto uma homenagem ao querido santo, de quem, confesso, sou devoto – e cuja data, na Bahia, onde nasci, é comemorada no dia 10 de maio, justamente no meu aniversário. Porém, em todo o mundo, o calendário, mesmo no Brasil, indica três de dezembro, dia de sua morte.
- Curiosamente, como vale recordar, São Francisco Xavier seria elevado a Padroeiro de Salvador por conta de duas epidemias que mataram grande parte da população da metrópole colonial. A cidade possuía 20 mil habitantes e foi duramente golpeada, primeiro, em 1663, por um surto de varíola e, posteriormente, em 1686, por outro de febre amarela – causando a morte de milhares de pessoas. “Esse pavor que foi instalado na Bahia levou muitos a buscar ajuda religiosa dos jesuítas, que pediram então o auxílio de São Francisco Xavier”, afirma o jovem historiador soteropolitano Rafael Dantas, da Universidade Federal da Bahia.
- “No dia Primeiro de Maio, daquele mesmo ano, organizou-se uma procissão pelas ruas de Salvador e, em seguida, foi feito o pedido oficial para que o santo se tornasse o Padroeiro da cidade” – o que, de fato, acabaria por acontecer e, logo depois, a febre amarela foi sendo superada. Vivia entre Salvador e Lisboa àqueles anos o maior dos homens de letras portugueses do século XVII, o padre jesuíta António Vieira (1608 – 1697), autor dos celebrados “Sermões” e admirador de São Francisco Xavier – denominado também Padroeiro Universal das Missões, juntamente com a francesa Santa Teresinha do Menino Jesus (1873 – 1887).
- Salvador tem um outro poderoso Padroeiro. O próprio Jesus Cristo, ou seja, o Senhor do Bonfim, a quem muitos baianos invocam em suas súplicas – e cuja festa anual é no dia 14 de janeiro. O ponto alto é o ato sincretista, mesclando o Catolicismo com divindades do candomblé, durante a tradicional lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim, no bairro de Itapagipe – distante quase 15 mil quilômetros de Goa, onde, ainda hoje, são venerados os restos mortais de São Francisco Xavier.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador