Jair tem medo, como fica estampado em seu rosto a cada pronunciamento. Não é necessário ser versado em psicologia ou psiquiatria para identificar traços de psicopatia em Jair, além de um infantilizado intelecto – já o fizeram com propriedade os psiquiatras Guido Palomba e Nelson Nisenbaum, entre outros.
Não deve ser fácil para um homem de personalidade imatura superar as nuvens cinzentas do desespero. Quatrocentos mil mortos, uma CPI aterrorizante, a economia em frangalhos, um líder popular adversário de volta à cena eleitoral, um Congresso chantagista com uma centena de pedidos de impeachment na gaveta, os filhos investigados, o isolamento perante o mundo.
No mais recente capítulo da novela sobre o cerco judicial que se arma contra Jair & Sons, exposta em outra bela tacada do Intercept Brasil, a Polícia Civil do Rio de Janeiro relatou conversas grampeadas de milicianos ligados a Adriano da Nóbrega em que fica sugerido (ou evidente) o relacionamento do grupo com o presidente da República.
Como lembra à coluna o criminalista Conrado Gontijo, “as relações da família Bolsonaro com milicianos já foram objeto de inúmeras reportagens na imprensa. Aparentemente, são inegáveis”.
Por envolver possíveis crimes praticados pelo presidente, o tema deve tramitar no Supremo Tribunal Federal. Para tanto, a Polícia Civil fluminense tem de encaminhar seu relatório ao Ministério Público do Rio de Janeiro, que, por sua vez, precisa remetê-lo à Procuradoria Geral da República. E logo.
Sem conhecer pormenores do caso – ele apenas leu a reportagem do Intercept Brasil -, Gontijo diz não poder afirmar que a “casa de vidro” referida pelos milicianos na conversa interceptada seja de fato o Palácio do Planalto ou o Palácio da Alvorada. Cautela é predicado sempre bem-vindo.
De outra parte, cegueira pode ser uma opção. Quem não percebe em Jair & Sons hábitos e preferências típicos dos truculentos milicianos cariocas pode pecar por ingenuidade, mas quem os ratifica peca por cumplicidade.
O policial e miliciano Adriano da Nóbrega foi morto pela polícia baiana em fevereiro de 2020, quando estava foragido. O ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) fora homenageado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro em 2005, quando estava preso acusado de homicídio, por iniciativa do deputado estadual Flávio Bolsonaro, cujo gabinete empregou a mãe e a ex-mulher dele. O então deputado federal Jair Bolsonaro, no mesmo ano, também o homenageou na tribuna da Câmara.
Violência, policiais corruptos e milicianos compõem o submundo em que Jair & Sons são mais influentes e do qual são porta-vozes. Sem disfarce. Conforme explicou ao Brasil 247 o jornalista Bruno Paes Manso, autor do livro “A República das milícias”, o método miliciano, e também do tráfico, é bem conhecido: prestação de “assistência” a preço alto aos habitantes-eleitores de territórios dominados.
Com tudo às claras, Jair & Sons estão acuados, temerosos e enfurecidos. Seus seguidores, como a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), partem para o tudo ou nada e tentam “milicianizar” as polícias como um todo, a exemplo do que se viu em Salvador, quando um policial enlouquecido foi morto por colegas e a parlamentar disseminou, de modo grosseiramente fake, que se tratava de um herói alvejado quando defendia o direito de ir e vir da população. Ecos do desespero.
PAULO HENRIQUE ARANTES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)
Jornalista, com mais de 30 anos de experiência nas áreas de política, justiça e saúde.