O general Edson Leal Pujol , demissionário comandante do Exército, sai para a história com muito mais hombridade e louvor do que o seu antecessor, general Villas Boas; repetiu o gesto do ex-general Lott, que, em novembro de 1955, reagiu às forças golpistas e antidemocráticas, adeptas da politização das Forças Armadas; estas haviam se levantado contra a posse do ex-presidente JK, aliado de Getúlio Vargas, vitorioso contra a UDN. Mutatis mutantis, ocorre, nesse momento, algo parecido com esse assombração – politização dos militares – que tenta abalar a democracia fragilizada pelo modelo neoliberal bolsonarista; Pujol resistiu ao chamamento do presidente Bolsonaro, tendo em causa a democracia ameaçada por propósitos, claramente, golpistas; negou, como Lott, politizar as forças armadas; recusou ordem do presidente de pressionar o STF para não aprovar suspeição do juiz Sérgio Moro na armação jurídica contra Lula; cassaria, outra vez, candidatura dele em 2022; esse tinha sido, em 2018, o comportamento do general Villas Boas de pressionar o STF a não conceder habeas corpus ao ex-presidente petista, impedindo-o disputar eleição; Bolsonaro o agradeceu com uma confissão cujo teor ficou inconfessável para a opinião pública; ele devia, como disse, favor impagável ao general Villas que garantiu sua eleição; o favor decorreu da subordinação do STF às imposições dos militares. comandadas por Villas Boas. Direito da força contra a força do direito.
E agora?
Agora, o comandante Pujol se pôs equidistante da política, contrário, como Lott, à politização das Forças Armadas; resultado: o golpe que Bolsonaro armou não se concretizou, porque Pujol se recusou a seguir o seu antecessor, para agradar o presidente; para ele, ficou explícita a propensão golpista bolsonarista com a qual não concordou; seu gesto a favor da legalidade o alia ao mesmo gesto pela legalidade praticado por Lott, para garantir a democracia com JK, alvo, antes de sua posse, de três tentativas de golpes articulados pela UDN; Pujol se negou a participar das forças antidemocráticas, aliadas de Bolsonaro, empenhadas em politizar os militares em favor do bolsonarismo militante-miliciano; o objetivo, claro, era o de garantir segundo mandato ao capitão presidente em 2022; Bolsonaro chegou a articular medida parlamentar para legalizar o golpe; o projeto de lei 1.074/2021, do deputado bolsonarista, major Hugo(PSL-GO), visava transformar Bolsonaro em super-presidente ditatorial; com esse status, enfrentaria o STF, os governadores e prefeitos, contrários ao seu protagonismo negacionista diante da pandemia assustadora; ninguém, no parlamento, topou e ele se esborrachou; derrota bolsonarista acachapante; o titular do Planalto está, politicamente, desmoralizado, sob desconfiança da sua maior base de apoio: as Forças Armadas.
Choque General-capitão presidente
É de se ressaltar que o ex-comandante da força terrestre mostrou suas incompatibilidades com Bolsonaro em 3 ocasiões, a partir do momento em que substituiu o golpista Villas Boas: 1 – descartou, no seu discurso de posse, invasão da Venezuela, como articulava Bolsonaro, a pedido de Trump; 2 – recusou cumprimentar o presidente com aperto de mão, mas, apenas, com toques nos cotovelos, em evento protocolar. Naquele momento, Bolsonaro estimulava abertamente o negacionionismo; ia para as ruas, fazia aglomerações, ironizava quem tomava precauções, desobedecia protocolos científicos e pregava contra distanciamentos e lockdown; feria regras sanitárias, deseducando a população; e, por fim, 3 – Pujol distanciou-se do governo no trato com a pandemia; cuidou de aplicar nas forças terrestres procedimentos recomendados pela ciência; encarregou dessa tarefa o general Paulo Sérgio Nogueira, que o substitui como novo comandante do Exército; ou seja, duas derrotas impostas a Bolsonaro. Resultado: Pujol, com Paulo Sérgio, reduziu a 0,13% o grau de contaminação no Exército, enquanto, no país, a contaminação atinge 2,5%; Bolsonaro se lixou para o exemplo de cidadania do Exército e radicalizou no negacionismo.
Prestigio garantido
Os comandantes das Forças Armadas que entregaram seus cargos em solidariedade ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, saem com notas altas perante à população; agiram para proteger as tropas do coronavírus e, no caso do comandante do Exército, evitou tentativa de golpe bolsonarista contra a democracia; o novo ministro da Defesa, general Braga Netto, agirá diferente do general Fernando Azevedo, que se recusou punir Pujol por não se render à propensão golpista de Bolsonaro? Pujol, ao evitar possível golpe político bolsonarista, na pandemia, que vitimou mais de 320 mil pessoas, fortaleceu a democracia e jogou água fria da ditadura, no dia do 57º aniversário do golpe de 64. Os caminhos cruzados da história democrática mostraram que Lott garantiu posse de JK; Pujol garantiu Lula disputar 2022.
CÉSAR FONSECA ” BLOG BRASIL 2437″ ( BRASIL)