Ao colocarem seus cargos à disposição, os chefes militares, implicitamente, dão contragolpe no presidente Bolsonaro, dizendo NÃO ao desejo dele de alinhamento das forças armadas ao seu propósito político de tê-las engajadas na disputa eleitoral de 2022 pela sua reeleição; igualmente, contragolpeiam o presidente na sua cogitação de decretar estado de sítio contra governadores que, autorizados pelo STF, agem com autonomia constitucional para combater a pandemia do novo coronavírus, diante do qual o chefe do governo tem adotado posição negacionista; e, por fim, cruzaram os braços diante da decisão soberana do STF de suspeitar de Moro no julgamento de Lula e, com isso, viabilizar candidatura dele no próximo ano.
Verificam, portanto, dois xeques-mate no capitão presidente que, diante dessa posição dos militares, vê esvaziada de qualquer substância a reforma ministerial que acaba de realizar, mexendo em seis postos de comando no governo; Bolsonaro teve, dessa forma, cortadas suas asas porque violaria a Constituição, se quisesse agir contra os governadores, desautorizando o Supremo Tribunal Federal; ficou, também, sem ação ao tentar impor politização das forças armadas, para se engajarem no movimento político bolsonarista; o ex-ministro da Defesa negou permissão aos militantes bolsonaristas milicianos para se posicionarem nas portas dos quarteis para forçarem as forças armadas a se engajarem no bolsonarismo militante, objetivando luta política sucessória no próximo ano; programações nesse sentido estavam sendo armadas para acontecer amanhã, quando se comemora data do golpe de 31 de março de 1964, quando os militares derrubaram o golpe constitucional nacionalista de Jango Goulart.
Ao dizer que as forças armadas cumprem função institucional de Estado, o general Fernando e Silva disse NÃO à utilização delas para os propósitos políticos do presidente; não estaria, portanto, disposto a render-se a ele, tanto na discussão do papel constitucional delas, como, também, na que se refere à decisão do STF de garantir autonomia dos governadores e prefeitos no atendimento à maior demanda social da atualidade, isto é, combate à pandemia como prioridade absoluta.
O presidente, sem o apoio dos militares, teria esse aval do Congresso, nessas duas questões fundamentais? Os líderes congressistas aliados de Bolsonaro estariam ao lado dele na pressão pelo engajamento militar no movimento bolsonarista e no da pressão inconstitucional sobre governadores, autorizados pelo STF, como eventual apoio à decretação do estado de sítio? Seria implausível esse movimento dos militares que aprofundaria desprestígio deles no momento histórico nacional dominado pelo temor popular à pandemia, contra a qual Bolsonaro não providenciou vacinas suficientes para imunizar a população; o isolamento do presidente cresce proporcionalmente à negação popular à vontade imperialista dele de forçar rompimento das regras democráticas.
CÉSAR FONSECA ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)