Nos últimos três dias o Brasil vem ocupando a primeira posição em número de casos de Covid-19 no mundo, respondendo atualmente por cerca de 17% dos casos mundiais, pois registrou 74.285 casos de 442.021 totais.
Em número de óbitos nesses três dias o Brasil vem emparelhando com os Estados Unidos, mas ainda não o ultrapassou. A ultrapassagem não vai demorar, pois a tendência de casos e de óbitos por Covid-19 naquele país é decrescente.
As tabelas abaixo, com recortes de “dois dias atrás” na tabela da esquerda, de ontem, na tabela do centro e de “agora” na tabela da direita, disponíveis no site do worldometer, em https://www.worldometers.info/coronavirus/ mostram a consolidação pelo Brasil do primeiro lugar mundial em Covid-19 no quesito que mede a sua face mais viva: os casos novos.
Os gráficos abaixo, igualmente disponíveis no worldometer respectivamente em https://www.worldometers.info/coronavirus/country/brazil/ para os casos e óbitos do Brasil e em https://www.worldometers.info/coronavirus/country/us/ para os dos Estados Unidos mostram porque esse primeiro lugar não é uma flutuação ocasional mas uma posição consolidada.
Abaixo vemos que o número de casos e de óbitos do Brasil mostram uma tendência crescente, dado extremamente grave pelo fato de que o ímpeto da curva parece revelar um pico ainda distante.
Casos novos de Covid-19 no Brasil. Fonte: Worldometer
Óbitos por Covid-19 no Brasil. Fonte Worldometer
Os números dos Estados Unidos, ao contrário exprimem declínio tanto nos casos como nos óbitos. Isso significa que os números que posicionam o Brasil no topo dos registros de casos novos são definitivos.
No que toca ao número de óbitos os Estados Unidos ainda se encontram em primeiro lugar, porém, como os óbitos são sempre uma proporção dos casos registrados, esses números refletem o momento anterior em que o país, sob a administração Trump, era o epicentro da Covid-19.
Casos novos nos Estados Unidos. Fonte Worldometer
Óbitos por Covid-19 nos Estados Unidos. Fonte Worldometer
Na medida em que o Brasil passa a liderar a epidemia em número de casos novos, não há motivo para que, num horizonte de uma semana não esteja também liderando em número de óbitos. Lamentavelmente essa tendência também será consolidada pelo presumível aumento da letalidade da doença decorrente do colapso generalizado da capacidade de internamentos no Brasil.
No atual cenário, o Brasil, cuja população representa apenas 3% da população mundial é responsável hoje por 17% dos casos novos e por 18% dos óbitos.
Como sabemos, esse sucesso macabro não foi casual.
Hoje ainda o Presidente da República agrediu os brasileiros que clamam por vacina. Tal atitude que mostra ausência de qualquer compaixão com a angústia de milhões de compatriotas percorreu, na verdade, todo o enfrentamento da pandemia.
Elas acompanharam o esforço da sociedade civil, estados e municípios, para a difusão das medidas educativas para a prevenção, ou para fazer valer o Isolamento Social ou o Lockdown com desmobilização e aglomeração em desobediência ao próprio Ministério da Saúde. Elas se exprimiram como dificuldade extrema para os entes da federação ao desembaraçar os respiradores que haviam importado, desembaraço que só se deu, em muitos casos, por decisão do STF.
Elas se materializaram no kit covid alardeado como eficaz contra a doença, na não adesão ao protocolo Covax que poderia ter permitido ao Brasil o acesso a dezenas de milhões de doses suplementares de vacinas, no despreparo logístico e na falta de planejamento para a vacinação em massa, na atitude beligerante para com o instituto Butantã no que toca à autorização e aquisição de suas vacinas, esses exemplos poderiam ser multiplicados.
Agora pagamos o preço. A presente situação não se resolverá rapidamente. Ela induzirá a milhares de novos óbitos e a um isolamento ainda maior do Brasil no cenário internacional pois seremos em breve o único país do mundo com números astronômicos e crescentes de Covid-19 num cenário em que a pandemia estará sendo deixada para trás.
ION DE ANDRADE ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)
Médico epidemiologista e professor e pesquisador da Escolas de Saúde Pública do RN, é membro da coordenação nacional do Br Cidades e da executiva nacional da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela democracia