Os grandes órgãos de imprensa do país nasceram para atuar em favor das elites parasitas. Tratam-se de feudos que jamais hesitaram em agir contra a democracia sempre que foi necessário manter intactos os interesses pessoais dos seus proprietários et caterva. A ausência de civismo dos grupos dirigentes pode ser constatada na presente crise que vivemos: mais de 250 mil mortes pela COVID-19, sem vacinas suficientes para toda a população, que conta com uma campanha de imunização periclitante, sistemas de saúde entrando em colapso de norte a sul do Brasil enquanto o Presidente da República segue fazendo aglomerações, se nega a comprar vacinas, difunde tratamentos falsos e culpa governadores e prefeitos pela tragédia, tudo sob o beneplácito da mídia corporativa que encena aos incautos uma oposição acomodada ao governo.
O recente manifesto da Associação de Médicos pela Vida, defendendo o “tratamento precoce” contra a covid-19 através do uso de hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e outras drogas que não têm eficácia comprovada contra a doença, é mais um exemplo que mostra a degradação dos grandes jornais ao escolherem ganhar dinheiro com propaganda ao invés de praticar o bom jornalismo necessário às sociedades democráticas e civilizadas. A peça publicitária, naturalmente paga, foi veiculada no último dia 23 nas versões impressas dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de Minas, Jornal do Commercio, Zero Hora, Correio Braziliense, o Povo e Correio. Novamente, os jornalões deixaram a horda bolsonarista no chinelo e mostraram sua tradição em publicar Fake News e trabalhar pela desinformação da população, colocando-se como coautores da nossa tragédia anunciada, uma vez que a utilização de tais medicamentos pode causar o comprometimento dos rins e fígado, e até mesmo levar a morte do paciente.
Ao publicar o anúncio – que não permite contraditório por se tratar de espaço comercial -, a grande imprensa contribuiu para que o negacionismo sobre os fatos e a ciência mundial fossem encarados como um debate de interesse público, evidenciando seu alinhamento tácito com as práticas mais abjetas do bolsonarismo, assim como sua cumplicidade e responsabilidade em relação à crise de saúde pública vivida no Brasil. Tudo isso somado à alta dos preços dos alimentos e combustíveis, uma bomba relógio ameaçando explodir no colo do governo que decidiu agir e trocar o presidente da Petrobrás sob intensas críticas da imprensa que passou a defini-lo como “Bolsodilma”, “Dilmonarismo” e o mais recente “Bolsopetismo”.
É prerrogativa legitima do Presidente da República intervir na empresa estatal que deve estar a serviço do Brasil e dos brasileiros, jamais do rentismo e da exploração parasitária do mercado financeiro que nada produz e tudo saqueia. A descabida comparação com os governos petistas é a prova da deterioração dos princípios do bom jornalismo e da informação objetiva que subtraem a verdade e os fatos de interesse público. Em nenhum dos jornais, responsáveis pela peça publicitária que mata pessoas, foi publicado qualquer artigo ético com informações corretas sobre as estatais.
A mídia desinforma ao esconder que o governo Dilma, em 2013, destinou 75% dos royalties do pré-sal para a educação e 25% para a saúde. O montante poderia chegar a U$S 112 bilhões, até 2023, mas foi interrompido com o desmonte da Petrobrás, a venda do petróleo e das refinarias para o capital internacional após o golpe de 2016. O “Bolsopetismo”, utilizado pelos jornalistas (sic) para definir as ações do governo, não constitui desconhecimento histórico ou ausência de referencial teórico, mas um evidente desvio de caráter. São maneiras sutis encontradas pela mídia corporativa para se aproveitar do número de mortes e ajudar o quasímodo de Chicago, Paulo Guedes, a privatizar o patrimônio nacional. Com isso, os empresários da mídia, contando com seus capangas nas colunas e comentários políticos, se revelam verdadeiros lobistas, mercenários e desonestos que saqueiam o Brasil às custas de milhares de vidas, inaugurando a nova fase da imprensa nacional: o bolsojornalismo.
CARLA TEIXEIRA ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG