A possibilidade de que se empurre para a votação o projeto que dá autonomia ao Banco Central, para ser exibida como símbolo de “bom entendimento” entre o governo Bolsonaro, o novo comando da Câmara e o setor financeiro, é um teste para a capacidade de que, para usar a linguagem do ministro do Meio Ambiente, o governismo e Paulo Guedes possam “passar a boiada” do mercado, enquanto o país se preocupa com a falta de vacinas.
Mas há outro sinal que pode surgir hoje quando a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal julgar se mantém ou anula a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, autorizando a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ter acesso aos diálogos entre Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros procuradores da Lava Jato, apreendido pela operação Spoofing com Walter Delgatti Neto, o hacker de Araraquara.
Um placar de 4 a 1, apenas com o voto – se chegar a este ponto – do último dos moricanos naquela Turma – significa que o julgamento da suspeição de Moro nos processos onde condenou Lula está perto e o resultado pendendo, como se percebe nas manifestações de todos, exceto os próprios integrantes da Conspirata de Curitiba, em favor do o ex-presidente.
Decisões de Ricardo Levandowski, tomadas sexta-feira mostram a disposição do ministro em circunscrever a discussão no caso de Lula. Ele recusou a extensão do acesso aos arquivos a três réus – Sérgio Cabral, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva e o empreiteiro Leonardo Guerra, argumentando que não houve “a demonstração da
identidade fática entre a situação do paciente (Lula) e a do requerente (os três que pediram acesso).
Este seria o único argumento restante aos defensores da tese de que a verdade revelada nos chats fosse varrida para debaixo do tapete: o fato de que réus confessos da Lava Jato fossem se beneficiar automaticamente da suspeições de Sérgio Moro.
Sinalizada a iminente anulação do processo do triplex – o que remete, quase automaticamente, também à anulação do processo do sítio, conduzido por Moro e apenas concluído, com sentença praticamente igual, pela juíza subtituta, Gabriela Hardt – a oposição a Bolsonaro ganha em Lula um agente político legitimado – ou na iminência de legitimar-se – ao jogo de articulações.
Pode ser, se a direita não-morista não for suicida – uma cerca diante do tropel da boiada do Mito.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)