A soma de crise econômica, fracasso da política de saúde, incapacidade de conduzir as tais reformas chegaram, finalmente, ao centro da questão: a governabilidade. Daqui para frente, Bolsonaro terá que conviver com pressões continuadas e perda de apoio.
Os cenários econômicos brasileiros, e a formação de expectativas, são definidas da seguinte maneira:
1. O mercado dá o tema, impreterivelmente em cima de expectativas de curtíssimo prazo, uma frase de Bolsonaro, uma reafirmação da Lei do Teto, uma promessa de reforma, um avanço no negócio da privatização, um conjunto de irrelevâncias, que nada diz sobre o cenário real da economia.
2. A imprensa repercute, sem nenhuma visão de conjunto, em uma mediocrização pouco vista em 50 anos de história do jornalismo econômico brasileiro. Tratam cada episódio como se fosse decisivo, quanto muito, influenciam apenas o próximo vencimento de opções.
3. Em cima desse efeito manada, os verdadeiros estrategistas deitam e rolam. Eles analisam os temas centrais e, a partir deles, traçam uma linha de médio prazo, sobre o que pode acontecer com a economia. Traçada a linha, vão comendo pelas bordas, comprando quando os indicadores estão abaixo da linha, vendendo quando acima.
Quais os pontos relevantes a se considerar (há muito tempo, saliente-se).
* Pressão de custos, provocada pelo câmbio e pela abertura irrestrita das exportações de minérios e alimentos.
* Queda das vendas, pelo fim da renda emergencial, produzindo uma combinação que leva à estagflação.
* Ampliação da tensão social, com o aumento do desemprego e da fome.
* Paulo Guedes totalmente atarantado. É Ministro de uma arma só – as tais reformas, um fetiche que encanta o mercado e que não tem o menor efeito para enfrentar os monstros atuais: desemprego, crise social, queda da atividade econômica, desmonte da máquina pública. Não tem a menor condição de definir políticas econômicas capazes de enfrentar os problemas atuais.
Ontem, o cenário óbvio foi se concretizando.
Primeiro, com a demissão de Wilson Ferreira Jr da presidência da Eletrobras, empenhado em concretizar a privatização da empresa. Depois, com os rumores de que o superministério de Paulo Guedes voltará ao formato anterior, com o desmembramento do Planejamento e do Desenvolvimento, sinal de que caiu a ficha sobre a inapetência gerencial de Guedes.
Nesses episódios, concretiza-se o divórcio final do mercado.
Dois outros fatos enfraqueceram ainda mais o governo Bolsonaro. O primeiro, a quase humilhação pública a que Bolsonaro se submeteu, elogiando a China pelo canal oficial do governo brasileiro: o Twitter. Certamente o episódio não o deixará ficar bem com seus seguidores mais fanáticos.
O segundo, o envio correndo para Manaus, do Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, depois que o Ministro Ricardo Lewandowski acatou o pedido de abertura de inquérito pelos erros cometidos no trágico episódio de Manaus.
Ficou evidente que acendeu uma luz amarela sobre o que poderá acontecer com Pazuello. Confirmado o crime de incompetência na gestão da Saúde, não haverá como não transpor a responsabilidade para quem o colocou no cargo, Jair Bolsonaro. Ainda mais se sabendo que os principais erros na condução da política anti-pandemia foram de responsabilidade direta de Bolsonaro.
Em suma, conforme previsto, a soma de crise econômica, fracasso da política de saúde, incapacidade de conduzir as tais reformas chegaram, finalmente, ao centro da questão: a governabilidade. Daqui para frente, Bolsonaro terá que conviver com pressões continuadas e perda de apoio.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)