Completa-se hoje um ano do bloqueio total imposto à região metropolitana chinesa de Wuhan, com seus 19 milhões de habitantes.
Bloqueio total, exatamente assim: bloqueio e total, por 76 dias.
A situação era, então, desesperadora. Morriam, imagine, dez (dez!) pessoas por dia com a doença misteriosa, da qual eram detectados 250 casos por dia naquele final de janeiro. Corria-se a montar hos´pitais modulares, vestiam-se médios e agentes sanitários com roupas de astronauta, drones com alto-falantes admoestavam quem violava ordem de ficar em casa e aviões, trens, ônibus e automóveis não podiam circular.
O G1 noticiava: “A província chinesa de Hubei, epicentro da epidemia do coronavírus 2019 n-CoV, registrou 42 novas mortes e mais 1.220 casos confirmados. Com esses registros, 213 pessoas morreram devido à doença na China, com 9.720 infecções”.
Hoje, os números da pandemia em Wuhan e em toda a província de Hubei (60 milhões de habitantes) dão inveja a qualquer habitante das grandes cidades do Brasil: menos de duas mil mortes.
Na China inteira, com seus 1,4 bilhão de habitantes, o último registro de casos foi de 88, 19 deles na província de Hubei.
Possivelmente não seria possível aqui um bloqueio tão intenso, mas apenas porque não se toma a decisão de fazer o Estado amparar plenamente as pessoas, um vez que, salvo engano, os chineses de Wuhan também comem, também vão à escola, também têm marcadores de luz, têm pequenos comércios, têm escritórios e empregos em fábricas.
Eles, aliás, nem tinham uma vacina no horizonte, como temos, ainda que o horizonte não seja próximo.
Manaus apareceu e chocou porque sua pobreza é exposta, é visível.
Mas o número de mortes lá, que está chocando a todos, é exatamente o mesmo, proporcionalmente, do que temos no Rio de Janeiro: 166 para cada 100 mil habitantes.
As medidas restritivas ou são mesmo severas ou não funcionam, exceto como paliativo e, encerrada a sua vigência, os níveis de doença voltam a disparar.
Durante muitos meses não teremos cobertura vacinal suficiente para mitigar o vírus, ainda mais se confirmadas as hipóteses de que as novas cepas são mais contagiantes e, como se levantou ontem na Inglaterra, mais letais.
Enquanto a praia, por aqui, encher mais que as carreatas de protesto, não haverá esperança de curto prazo.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)