ABERTA A TEMPORADA DE DISCUSSÃO SOBRE O IMPEACHMENT DO JAIR

Bolsonaro ao lado dos generais Augusto Heleno, Walter Braga Netto e Fernando Azevedo. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Até o final do mês a abertura ou não do processo de impeachment dependerá da vontade de Rodrigo Maia. A probabilidade maior é que não abra. Abrindo, o impeachment tem mais chances de ser bem sucedido

Vamos retomar o organograma para facilitar o desenho do cenário.

Conforme o cenário da semana passada, crise econômica e sanitária aumentariam as tensões sociais, podendo erodir a base de sustentação política de Jair Bolsonaro junto ao Congresso, o Supremo e as Forças Armadas.

Pelo cenário, à medida em que se sentisse acuado, Bolsonaro apelaria às Forças Armadas, às suas milícias armadas e seguidores radicais.

Ontem, os filhos de Bolsonaro divulgaram trechos de conversas dele com grupos de ultradireita. Nela, diz que quem define a democracia são as Forças Armadas, levanta o fantasma do comunismo e outras bobagens.

Peça 1 – Bolsonaro acuado

Há um conjunto de sinais mostrando que Bolsonaro se sente acuado.

  1. A mencionada invocação das Forças Armadas.
  2. O esforço despendido para eleger a presidência da Câmara e do Senado. São cargos essenciais para bloquear futuras tentativas de pedidos de impeachment.
  3. A ênfase com que o Ministro da Saúde, general Pazuello, negou qualquer recomendação para tratamento precoce do Covid-19, mesmo com inúmeras manifestações pró-cloroquina e com a recomendação expressa para que a rede de saúde básica de Manaus adotasse tratamentos alternativos. Na negativa insistente, ficaram nítidas as recomendações da Advocacia Geral da União (AGU), para prevenir futuros processos por crimes de responsabilidade. Pazuello está se prevenindo para a avalanche de processos que cairá sobre sua cabeça.
  4. Esse mesmo cuidado foi expresso pela diretoria da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), ao autorizar as vacinas sob o argumento de não existir nenhum tratamento alternativo recomendado.

Peça 2 – aposta perdida

Assim como Donald Trump, Bolsonaro colocou todas suas fichas na cloroquina, inclusive como alternativa ao isolamento social. A diferença é que Trump percebeu a tempo a loucura e recuou. Na saída do governo, vangloriava-se do sucesso do desenvolvimento de vacinas pelo país.

Bolsonaro permaneceu na mesma trincheira, bancando até o final a aposta – em uma clara demonstração de que age por instinto, não por cálculo.

Perdeu a aposta. Não apenas porque o Instituto Butantã, trunfo do governador paulista João Dória Jr, conseguiu lançar a primeira vacina, como pelas trapalhadas de Pazuello na compra das tais vacinas indianas. Chegou a preparar um avião para buscar vacinas na Índia enquanto a própria imprensa indiana mostrava o estranhamento das autoridades do país com o anúncio do governo brasileiro, de que fecharia as compras de vacinas.

Mas não apenas isso. O sentimento de alívio com a vacina se espalhou por todo o país,  reduzindo o alarido dos grupos anti-vacina. A vacina se tornou uma ideia vitoriosa.

Para tentar disfarçar a derrota, o presidente anti-vacina passou a exigir a entrega das vacinas do Butantã ao Ministério da Saúde, para uma distribuição equitativa pelos estados. Foi uma enorme bobagem. Se nada falasse, as vacinas seriam entregues naturalmente para o Ministério, pois a centralização na Saúde é parte da lógica das campanhas de imunização brasileira. Ao pressionar, Bolsonaro apenas mostrou o desespero com o fato de Dória ter saído na primeira foto da vacinação.

A derrota, mas o avanço da segunda onda por todo o país, ampliará o desgaste de Bolsonaro. As pesquisas mais recentes já mostraram queda de popularidade.

Esse desgaste terá impacto sobre Forças Armadas, Congresso e Supremo.

Peça 3 – as Forças Armadas

Com o apoio tácito a Bolsonaro e as trapalhadas do Ministro da Saúde, general Pazuello, as Forças Armadas experimentam o maior desgaste da história desde a redemocratização.

Pazuello acabou com o mito da excelência gerencial das FFAAs. Mostrou uma inequívoca dificuldade até em sua área de especialização, a logística. Ao lado do general Augusto 

Heleno, Luiz Eduardo Ramos e Braga Neto, formam uma quina  inócua, depois da venda da ideia de que seriam os agentes de racionalidade do governo.

Hoje em dia, Bolsonaro é uma carga pesada. Certamente o Alto Comando não se desgostaria de alguma solução constitucional que deixasse o general Hamilton Mourão na presidência.

Peça 4 – a discussão do impeachment

Ainda é cedo para conclusões taxativas sobre o impeachment. As extravagâncias de Bolsonaro, mais as cenas chocantes de Manaus, alertaram setores influentes sobre a ameaça Bolsonaro e aumentaram alguns graus no impichômetro..

Há um mal-estar nítido entre Ministros do Supremo, parlamentares de vários partidos e da mídia. É um movimento de mal estar que tende a ganhar força. No momento atual, ainda não permite apostar no impeachment.

Mas há um fator aleatório no ar: a possibilidade ou não do presidente da Câmara abrir o processo de impeachment contra Bolsonaro.

A mera abertura do processo mudaria totalmente a dinâmica da crise.

Por ora, cada absurdo de Bolsonaro provoca reações de indignação que, por falta de consequências imediatas, se perdem no ar.

A abertura do processo do impeachment, mesmo em um Congresso ainda majoritariamente bolsonarista, inverte a dinâmica. Toda a reação contra Bolsonaro se concentraria no impeachment, em uma dinâmica que poderia se tornar irresistível, como foi no caso de Dilma Rousseff.

Por enquanto, o candidato de Bolsonaro à Câmara, Arthur Lira, é considerado favorito.

De qualquer modo, até o final do mês a abertura ou não do processo de impeachment dependerá da vontade de Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara.

A probabilidade maior, é que não abra o processo. Abrindo, a probabilidade maior é que o impeachment seja bem sucedido.LEIA TAMBÉM:  AS FALSAS ACUSAÇÕES DE ANTISSEMITISMO COMO ARMA DE GUERRA, POR BRUNO BEAKLINI

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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