Só não é um atropelamento de caminhão na economia brasileira porque a empresa já havia anunciado o fim da produção de caminhões que mantinha há 62 anos no Brasil em outubro do ano passado.
Mas agora, a Ford fecha de vez, encerrando também a produção brasileira de veículos de passeio, iniciada há mais de meio século, quando lançou o Corcel.
Perto de 7 mil trabalhadores – a fábrica tinha lançado um programa de demissões voluntárias em setembro passado – perderão o emprego no curto e médio prazo, à medida que a fabricação de peças vá sendo transferida, como a de veículos, para o Uruguai e para a Argentina. Quatro ou cinco vezes mais perderão os empregos na cadeia de fornecimento da empresa.
Sim, Argentina, aquela que Bolsonaro disse que “viraria uma Venezuela” e que teria filas de cidadãos fugindo para o Brasil em busca da sobrevivência.
Não é uma decisão surpreendente, porém.
Desde o ano passado, a Ford vinha anunciando a intenção de vender a fábrica de São Paulo e o governador João Doria tentou intermediar a venda para um grupo que detém licença de fabricação de marcas coreanas e chinesas, mas o negócio fracassou.
O governo federal, olimpicamente, lavou as mãos.
Embora trabalhasse com ociosidade, pela queda nas vendas, a Ford representava perto de 15% da capacidade instalada de produção de veículos do país, que já havia perdido, mês passado, as linhas de montagem da Mercedes.
Claro que os obturados ideologicamente (já estão fazendo isso nos comentários dos sites de notícias) vão culpar os custos trabalhistas e “o PT”, mas que diferença para o tempo em que um governo de um ex-operário metalúrgico fazia do Brasil o destino preferido para a instalação de novas fábricas de veículos.
É bem possível que o presidente desta cada vez mais republiqueta reaja com um “e daí?” e diga que é “o mercado” que deve decidir que empresa vive ou morre, fica ou sai.
Os governo que se sucederam ao golpe de 2016 não têm política industrial, não têm foco no crédito produtivo, não querem saber de nada que não seja o lucro especulativo e a exportação de produtos primários.
Abrimos mão de ter uma indústria brasileira de automóveis nos anos 60, assistimos o boom das estrangeiras instaladas aqui por 50 anos e, agora, vamos ver estas progressivamente dizendo adeus a Pindorama.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)