Hoje acordei disposto a acreditar que, como indica o calendário, havia começado um ano novo.
Peguei a chave do carro e resolvi dar uma volta por aí. As ruas estavam vazias, como no ano passado. Alguns caras faziam cooper, como se dizia antigamente, o que dava ensejo a infames e obscenos trocadilhos.
Eu procurava uma padaria aberta.
A primeira, a minha preferida, porque ninguém corta o peito de peru como seus funcionários, estava fechada.
Tentei a segunda, não tão boa quanto, mas razoável. Nada.
Me aventurei até mais longe de casa. Tenho o mapa das padarias na minha cabeça. Fechada também.
Até que finalmente, numa esquina também sem movimento, achei uma. Menos bonita, mais cara, mas era o que havia.
Nada de novo. A maioria das padarias fechada, uma ou outra aberta.
Logo depois, abri o primeiro jornal do ano.
Uma foto enorme, na capa, mostrava uma senhora de rosto enrugado, segurando a mão de uma enfermeira, e a legenda dizia “idosos lutam contra covid, solidão e abandono nos asilos”.
Ligo a televisão, num canal fechado a repórter dá notícias sobre mais uma vacina que o Brasil não comprou, enquanto imagens de seringas espetando braços se sucedem, o que eu não suporto, mudo de canal.
No Twitter fico sabendo que na Rússia morreram 500 de ontem para hoje e que o coronavírus mais transmissível já circula no Brasil.
“Sem vacina, plateias continuarão vazias” avisa uma chamada de primeira página.
A quarentena continua, seja amarela ou vermelha.
Manaus vai armazenar corpos em caminhões frigoríficos.
Parecem notícias de 2020, mas não, são de hoje, de 2021. E está na cara que terão suíte amanhã e depois de amanhã.
O número mudou, mas o ano é o mesmo.
Só haverá ano novo quando a pandemia acabar.
E, assim como acontece com as guerras, a gente sabe quando a pandemia começa, mas não sabe quando termina.
ALEX SOLNIK ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)