As eleições municipais, no meio do mandato presidencial, quase sempre levam a uma reforma ministerial, para o ajuste fino da participação da base aliada no governo. Bolsonaro jurou que não faria a “velha política”, mas já está fazendo e mais terá que fazer. Derrotado nas eleições, ele já começou a receber a fatura do Centrão: PP e Republicanos, principalmente, querem agora um ministério cada um, pois até aqui só ganharam cargos de segundo escalão.
Afora essa pressão partidária, Bolsonaro hoje foi alvo de dois editoriais pesados. Um da Folha de S. Paulo, pedindo a cabeça do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e outro de O Globo, cobrando mudanças no Itamaraty (Ernesto Araújo) e na política externa tão danosa ao país.
Voltando ao Centrão, outro partido que saiu-se bem foi o PSD de Gilberto Kassab, mas como reclamam os outros, o partido já foi contemplado com a nomeação de Fabio Faria para o ministério das Comunicações. As pastas que PP e Republicanos mais cobiçam são a da Saúde, ocupada pelo general Pazuello, e a de Minas e Energia, ocupada pelo Almirante Bento Albuquerque. E ainda a de Infrestrutura, ocupada pelo engenheiro e miliar da reserva Tarcísio Gomes de Freitas. Note-se que são pastas com orçamentos musculosos. A saída dos dois ministros militares atenderia também à aspiração do alto comando das Forças Armadas, por maior distanciamento delas em relação ao governo.
O Democratas também saiu-se bem na eleição, passando de 272 para 440 prefeituras, mas quem acompanha as declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, percebe que ele vem buscando distância de Bolsonaro. Ele anda articulando é uma aliança entre partidos da direitona tradicional, que gosta de ser chamada centro, para lançar um candidato tipo Luciano Huck. Então, o DEM não está pedindo nem deve ganhar ministério.
A presidência da Câmara também pode entrar neste acerto do Centrão com Bolsonaro. O PP tem o deputado Arthur Lira como candidato. Se Bolsonaro puder garantir o apoio de outros aliados para garantir a eleição dele, o PP talvez se dê por satisfeito. Mas Rodrigo Maia tem outras preferências e enorme capacidade de articulação, inclusive com a esquerda.
Então veremos, em breve, Bolsonaro envergando como nunca os trajes da velha política fisiológica. Ele foi derrotado e sua popularidade vem se dissolvendo porque governa mal, ou melhor, não governa, abandona a população na pandemia, não resiste a uma pancadaria verbal e vem fazendo muito mal ao Brasil em várias frentes. Mas, também, porque parte de seus eleitores de 2018 decepcionaram-se com seu estelionato eleitoral, ao quebrar a jura e entregar-se ao mais deslavado fisiologismo, a velha política.
TEREZA CRUVINEL ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)