SÃO VICENTE DE MARTIM AFONSO DE SOUSA

MARTIM AFONSO DE SOUSA

Um fidalgo beirão, Pedro Álvares Cabral (1467 – 1520), descobriu o Brasil, como estudamos, em 22 de abril de 1500, ao desembarcar na localidade baiana de Porto Seguro – a pouco mais de 700 quilômetros ao Sul de Salvador. E, por isso, muitos acreditam que a primeira cidade lusitana erguida nas Américas teria sido a metrópole da Bahia, em 29 de março de 1549, com a chegada do I Governador-Geral do imenso Portugal do Novo Mundo, o poveiro Tomé de Sousa (1503 – 1579) – influenciado pelo ‘adelantado’ da Corte de Lisboa, Caramuru, apodo do minhoto Diogo Álvares Correia (1475 – 1557), e o transmontano Padre Manuel da Nóbrega (1517 – 1570). Primeira capital da antiga colônia, Salvador, no entanto, não foi sequer o segundo vilarejo criado. Mas, sim, Olinda, em 1535, sede da Capitania de Pernambuco, pelo seu donatário, Duarte Coelho Pereira (1485 – 1554), nascido no Porto – membro da nobreza rural das regiões setentrionais do Minho e de Trás-os-Montes.

A pioneira, três anos antes de Olinda, foi a paulista São Vicente, exatamente em 22 de janeiro de 1532, na ilha do mesmo nome, na área metropolitana de Santos – como costuma enfatizar meu querido amigo Fernando Ribeiro Pereira, líder da Casa da Ilha da Madeira na Baixada Santista. O fundador de São Vicente foi o alentejano Martim Afonso de Sousa (1490 – 1564), donatário dos vastíssimos territórios que abrangiam a então Capitania. Ele acumularia, de 1542 a 1545, o título de Governador-Geral da Índia, à época, integralmente portuguesa.

É anterior, entretanto, o nome escolhido para a primeira cidade. Precisamente 30 anos, quando, em 1502, a ilha foi descoberta no litoral paulista durante a prodigiosa expedição do espanhol da Galícia, Gaspar de Lemos – à serviço do Rei Dom Manuel I (1469 – 1521), O Venturoso. Sua denominação foi uma homenagem prestada pelo explorador galego a um dos santos compatriotas, São Vicente Mártir, natural da aragonesa Huesca, assassinado, em 304, em Valencia. Não há, porém, registros da data de nascimento e morte de Gaspar de Lemos na historiografia ibérica. São Vicente se tornaria tristemente conhecida, em diferentes pontos da Europa, através do aventureiro germânico Hans Staden (1525 – 1576), vindo da região central da Alemanha, em Homberg, no Estado de Hesse – um dos 16 que formam hoje o país. Foi feito prisioneiro pelos Tupinambás, em 1552, em Itanhaém, após naufragar em Ubatuba. Quase terminou devorado.

Staden, ao retornar à Alemanha, escreveria um livro sobre sua experiência entre os canibais que habitavam próximos a São Vicente, intitulado “Duas Viagens ao Brasil”, publicado em 1557, no qual narra como conseguira escapar graças à ajuda dos Tupiniquins, aliados dos lusos. Pior sorte teve, em 1556, o primeiro Bispo enviado pelo Padroado Português, o alentejano Dom Pero Fernandes Sardinha, natural de Évora, devorado, aos 60 anos, pelos Caetés de Pernambuco. Sardinha era um erudito prelado formado em Teologia na Universidade de Paris. Seu sacrifício deixaria estarrecida a França dos primórdios da Idade Moderna (1453 – 1789), precursora do Iluminismo europeu, e, séculos depois, inspiraria, em 1922, o Manifesto Antropofágico do paulistano Oswald de Andrade (1890 – 1954), um dos protagonistas da revolucionária Semana de Arte Moderna.

São Vicente, ao longo de 500 anos, foi tendo seu esplendor ofuscado pela vizinha Santos – principal porto da América Latina. Sobretudo quando, na famosa Vila Belmiro, um dos preciosos monumentos da universalidade do futebol, surgiu o genial Pelé, maior ídolo nacional de todos os tempos, que completou 80 anos no último dia 23 de outubro. Ele foi eleito, em 1980, pelo prestigioso cotidiano esportivo francês, L’Equipe, o Atleta do Século XX.

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *