O ministro Paulo Guedes parece disposto a bater o feito de NIk Wallenda, recordista mundial de equilibrismo em bicicleta na corda bamba de circo. Com seu desempenho nas últimas semanas, deixa na poeira o norte-americano de New Jersey nas suas duas especialidades: equilibrar-se na corda bamba e pedalar no espaço.Publicidade
Que nem no jogo infantil do “cai-não-cai”, tal qual o boneco “João Bobo” que sempre para em pé, o ministro teima em voltar para a posição e desafia analistas e observadores, pois cada dia que passa, mais certeza se dá que com esta ou aquela atitude, frase solta ou bate-boca está na fila para receber o bilhete azul. E nada. Passa hora, passa dia e Guedes continua no quinto andar do Bloco P da S1 (pista direita do Eixo Monumental de quem vai da Esplanada dos Ministérios).
Talvez a explicação seria de que assim como o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia é um novo animal na floresta. As pastas da área econômica, seguidas vezes são ocupadas por ditos sábios, por teóricos reconhecidos, luminares das mais afamadas academias, que chegam ao Planalto com um séquito de cabeças brilhantes, com uma receita pronta para fazer o bolo crescer. Se as coisas começassem a dar erradas e as teses a serem desmontadas ou desqualificadas, o dito cujo pega seu boné e vai deitar cátedra noutra freguesia. Normalmente num organismo internacional ou na diretoria de um grande banco. Essa tem sido a História, cheia de grandes magos, czares ou o que fossem nos seus tempos de poder. Guedes é o contrário disse modelo.
O ministro Paulo Guedes (embora tenha uma curta carreira acadêmica) vem do mercado de capitais. Seu elemento natural é a incerteza. Tanto que não falta um procurador a lhe cobrar resultados em operações de risco, como se fosse obrigado a ganhar sempre. Coisa de burocrata. Guedes é o homem do mundo volátil, dos humores, dos sinais imperceptíveis. Um espirro de um potentado nalgum lugar do planeta, por exemplo, derruba mercados, no Brasil e ao redor do mundo, pela manhã e, divulgado o diagnóstico, numa porta de enfermaria, como foi o caso desta semana passada, com o teste positivo de covid-19 do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, as cotações disparam para o alto. Como ocorreu na semana passada. Haja nervos.
O sucesso do ministro que o levou até onde se encontra, não vem de suas teses acadêmicas, tantas vezes invocadas por seus críticos. O que levou Guedes ao topo do governo foi seu faro para oportunidades de negócios, seu instinto. É verdade que, no início da carreira, passou por experiências no campo técnico, o que é normal, pois sua formação profissional indicava uma vida dedicada aos livros (que ele diz ter lido no original). Carioca de nascimento graduado economista na Universidade Federal de Minas Gerais, foi cursar seus “pós” nos Estados Unidos, no caso em Chicago. Aluno destacado, foi indicado para um grupo de trabalho no Chile, que, na época, vivia uma restauração capitalista, o tal neoliberalismo, sob a batuta política de ditador Pinochet. Mas Guedes não era o guru do general.
No Brasil teve passagens como professora PUCRJ e na Fundação Getúlio Vargas, escolas de prestígio, mas que não determinaram sua imagem. Guedes projetou-se profissionalmente depois que enveredou para o mercado de capitais, como destacada figura do IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), fundador de banco (Pactual) e gestor de grandes instituições do mercado, como as polpudas carteiras de ações dos multimilionários fundos de pensões (ditas fundações) das empresas estatais ou, nos últimos tempos, do hipecompetente e reconhecido gestor de fundos, o Grupo Bozano. Ou seja: o ministro não é um colarinho
engomado, mas um boxeur de rua, figura do dia a dia as bolsas, atleta da gangorra do sobe e desce. Portanto, só isto explica por que ele não se vexa de tanta crítica de vai-se embora. Por isso sua trajetória tão desconcertante no governo, que tanto irrita, pois por mais que apanhe, menos disposto a ir embora.
PINHEIRO DO VALE ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)