A reportagem é tão non sense, que a repórter estranha o fato de nenhuma das reportagens censuradas se referir ao episódio BB. Ora, se a censura não foi nas matérias sobre a operação BB, como montar uma reportagem sobre a censura às matérias sobre a operação BB?
Não tem sido fácil a vida de Sérgio Dávila, diretor de jornalismo da Folha.
De um lado, tenta recuperar a mística da Folha dos anos 80 e 90, defensora das diretas, estimuladora da pluralidade. Por outro lado, carrega não apenas o passado recente, do jornalismo de guerra, como suas próprias idiossincrasias, preconceitos e limitações comerciais. Por aí se entende a dificuldade de identificar a Folha e sua campanha pelo amarelo. É o amarelo das diretas ou o amarelo dos patos da Fiesp?
Essa duplicidade exige uma enorme habilidade estilística, um jogo de subterfúgios incompatível, hoje em dia, com a balbúrdia das redes sociais e com a relativa pluralidade da velha-nova-mídia, cuja sobrevivência depende da capacidade de se legitimar perante o público melhor informado.
Recentemente, Davila enfrentou dois desafios.
O primeiro, o de Jânio de Freitas, no último domingo, criticando o editorial que compara Dilma Rousseff a Jair Bolsonaro, e o direcionamento da primeira página, que não abre espaço para colunistas que invistam contra o status quo. E alertou que a falta de clareza poderia dar margem a interpretações equivocadas sobre a Folha. Lembrou o episódio dos carros da Folha usados pela Operação Bandeirantes, cuja conta recaiu sobre Otávio Frias, pai, e o termo “ditabranda”, atribuído a Otávio Frias Filho.
Jânio fez uma defesa de ambos. Os carros para a Oban eram de responsabilidade de Carlos Caldeira Filho, o sócio de Otávio Frias. E a “ditabranda” não foi criação de Otávio, filho. Ele explicou que a falta de explicações produziu leituras equivocadas contra ambos.
Mas Sérgio optou por uma tergiversação tosca, denotando dificuldade de interpretação de texto: acusou Jânio de atacar a memória de duas pessoas que não podiam se defender. Convivi com Jânio por 15 anos como membros do Conselho Editorial da Folha. Jânio era incapaz de duas atitudes: puxar saco de chefes e comportar-se com deslealdade.Leia também: Censura a 11 matérias do GGN visa impedir a divulgação do negócio com big datas públicos
Acusá-lo de deslealdade não foi uma maneira, digamos, leal de rebater as críticas feitas à dubiedade editorial do jornal. Desvia o tema para as supostas críticas a pai e filho, defende a ambos e exime-se de esclarecer as críticas que recebeu. Não colou.
O segundo episódio foi esse caso da censura imposta pelo BTG.
Houve uma grita no Twitter, estranhando o silêncio dos grandes veículos – especialmente da Folha, que pretende vestir os democratas de amarelo. Ao mesmo tempo, vieram manifestações de solidariedade da própria Associação Nacional dos Jornais, da Associação Brasileira de Imprensa, da Associação dos Jornalistas Investigativos, de entidades sindicais, jornalistas, políticos .
A censura era sobre um tema tabu para a Folha: as aventuras do BTG Pactual. Dávila sabe do que estou falando. Ele a recorreu ao mesmo malabarismo desengonçado do episódio Jânio. Incumbiu uma repórter de cobrir o fato e as acusações sobre a compra de créditos de difícil recebimento pelo Banco do Brasil – que nada tinham a ver com a censura.
Ora, a censura do BTG se refere ao episódio da licitação da Zona Azul de São Paulo, não à compra de créditos do Banco do Brasil. Nas reportagens, acusamos a mídia de manter encoberto o caso da Zona Azul. A reportagem é tão non sense, que a repórter estranha o fato de nenhuma das reportagens censuradas se referir ao episódio BB. Ora, se a censura não foi nas matérias sobre a operação BB, como montar uma reportagem sobre a censura às matérias sobre a operação BB? E nem menciona qual o tema em comum nas reportagens censuradas.
Falou da censura sem se referir ao alvo da censura. Troféu equilibrista!Leia também: A “demoracia judicial”: ‘pequeno’ Jornal GGN, de Nassif, não pode falar do grande BTG Pactual, por Fernando Brito
Mais ainda, a reportagem abre espaço para o BTG me acusar de leviano, dar explicações sobre a compra da carteira do BB, e fugir do tema principal, que foi a licitação da Zona Azul de São Paulo.
Poderia fazer um jogo retórico aqui e dizer que Dávila se enganou mas, para dar provas de sua seriedade profissional, irá retificar a reportagem. Mas já passei da idade de acreditar em enganos reiterados.
A propósito da operação com o BB, o GGN encaminhou a seguinte solicitação de informações ao banco:
Da assessoria de imprensa do BTG:
Olá, Patricia
Para saber mais detalhes sobre o processo de venda da carteira, sugerimos que você consulte o Banco do Brasil.
Ai entramos em contato com o BB:
Estimados,
Entro em contato, em nome do Jornal GGN, para solicitar informações do Banco do Brasil referente à cessão da carteira de créditos, no valor de R$ 2,9 bilhões contábeis, ao fundo FIDC do banco BTG Pactual, conforme foi anunciado pelo BB no início do mês.
Gostaríamos de entender: como foi feita esta operação; se a cessão ocorreu para dinamizar o balanço com a intenção de reduzir custos ou qual foi o objetivo; por que não houve licitação para determinar o fundo comprador da carteira de créditos; informando que se trata de uma carteira “majoritariamente em perdas”, qual são as características da carteira e estimativas de recebíveis ou dívidas que o banco BTG poderá receber de lucro.
Resposta:
Boa tarde Patrícia,
Segue nossa resposta:
“O Banco do Brasil esclarece que prestou todas as informações sobre o assunto em comunicado ao mercado e às entidades reguladoras”.
¶LEIA TAMBÉM: BOLSONARO DÁ TRÊS DIAS PARA GUEDES REAPRESENTAR RENDA BRASIL
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)