Destacaram-se na formação do Brasil, ao longo destes 520 anos de presença lusitana ao Sul das Américas, milhares e milhares de famílias provenientes, majoritariamente, do querido e bucólico Norte de Portugal. Vieram, sobretudo, beirões, como o próprio descobridor do País, o fidalgo Pedro Álvares Cabral (1467 – 1520), nascido em Belmonte, próximo à Serra da Estrela, na Beira Baixa, que, com a Beira Litoral e a Beira Alta, compõem as chamadas Beiras.
Chegaram inúmeros minhotos. O primeiro deles teria sido o explorador Diogo Álvares Correia (1475 – 1557), o festejado Caramuru, natural da adorável Viana do Castelo, profundamente identificada com as raízes do riquíssimo folclore da região. Náufrago, na costa baiana, em 1510, Caramuru se estabeleceria nas praias de Salvador, antes, portanto, da cidade ser erigida, casando-se com a índia Catarina Paraguaçu – cujos restos mortais se encontram na Igreja beneditina do bairro soteropolitano da Graça.
A capital só seria fundada em 29 de março de 1549, quando cá chegou outro ilustre membro da nobreza do Norte, o poveiro Tomé de Sousa (1503 – 1579), de Rates, próximo ao Porto, primeiro Governador-Geral do Brasil. Ele e Caramuru decidiram o local onde seria erguida Salvador. Tomé de Sousa, que aqui ficaria até 1553, trouxe na sua comitiva, por sua vez, vários colonos e seis jesuítas, dentre estes, o transmontano Padre Manuel da Nóbrega (1517 – 1570), nascido à Província de Vila Real, chefe da precursora Missão dos Jesuítas nas Américas. Nóbrega participaria da criação de Salvador e fundaria ainda duas importantes capitais – São Paulo, em 1554, e Rio de Janeiro, em 1565. Ilustra a coluna retrato a óleo de Nóbrega.
Beirões, minhotos, poveiros e transmontanos povoariam e construiriam o imenso Portugal nas Américas, com numerosos compatriotas vindos do Porto, a preciosa metrópole nortista, e de localidades vizinhas. Também viriam insulares açorianos, como os fundadores das capitais Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e Florianópolis, em Santa Catarina. Mais recentemente, no século XX, desembarcaram madeirenses – principalmente em São Paulo.
E por que não alentejanos? Estes chegaram em quantidade menor. O pioneiro foi o célebre Martim Afonso de Sousa (1490 – 1564), da nobreza de Vila Viçosa, donatário de São Vicente, primeira cidade edificada pelos portugueses no Brasil, em 1532, na Baixada Santista, ao lado de Santos. Ele permaneceria como senhor de São Vicente até a morte. Acumularia de 1542 a 1545 o honroso título de Governador-Geral da Índia. Cruzaram, da mesma forma, o Atlântico, porém, em número reduzido, grupos de Coimbra, Lisboa e Setúbal – e das regiões de Estremadura, Ribatejo e Algarve.
O Brasil seria construído por estes portugueses, juntamente com os indígenas e os afrodescendentes. Foram agregando-se e sendo integrados ao País, ao correr do tempo, outros europeus, notadamente italianos, espanhóis, alemães, suíços, húngaros, armênios, poloneses, ucranianos, gregos e romenos. Bem como muitos asiáticos. Do Japão e China ao Oriente Médio de língua árabe, de onde emigrariam os laboriosos mascates libaneses e sírios, responsáveis, na prática, pela criação do grandioso mercado interno nacional, ao levarem bugigangas, de porta em porta, por todos os estados.
Esses povos se miscigenaram, racial e culturalmente, seguindo preceitos da Corte de Lisboa e da Santa Sé, dando origem a uma nação com uma pronúncia deliciosamente pausada, ao contrário de beirões, minhotos, poveiros e transmontanos. E, no entanto, orgulhosamente, camoniana.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino de Castro é jornalista e historiador