De volta ao Planalto, após três semanas de quarentena no Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro voltou ao trabalho nesta segunda-feira com a corda toda.
Sem jornalistas para brigar no “cercadinho”, ele se irritou com os poucos devotos que o aguardavam na entrada do Palácio do Planalto e cobraram dele medidas contra o desemprego.
“Acabaram com o emprego no Brasil e a gente agora vai ter que trabalhar para recuperar”, protestou, como se ainda fosse um deputado qualquer do baixo clero e não o presidente da República.
Ninguém lhe perguntou quem seria o responsável por essa tragédia, mas como ele nunca é culpado por nada do que acontece no Brasil, presume-se que os vilões sejam os governadores e prefeitos, que adotaram o isolamento social, contra a sua vontade, para combater a pandemia.
Sem paciência para tratar desse assunto e entrar em detalhes, o presidente ainda se queixou dos “muitos problemas para resolver que outros fizeram e colocaram no meu colo”.
Que outros? Seria Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga”, responsável pela política econômica, ou algum inimigo externo conspirando contra o Brasil enquanto o presidente se recuperava do coronavírus tomando cloroquina?
Antes da quarentena presidencial, a taxa de desemprego já estava em 13,1%, a maior da série histórica do IBGE, com o fechamento de mais 1,5 milhão de postos de trabalho registrado no final de junho.
Desde o início da pandemia, há cinco meses, o governo se limitou a criar o auxílio emergencial de R$ 600, mas não apresentou até agora nenhum programa para a recuperação dos empregos perdidos.
Na semana passada, Guedes apresentou finalmente a primeira parte da sua reforma tributária, apenas com a unificação de impostos federais (PIS e Cofins), como se isso pudesse dar algum alento a empresários e trabalhadores.
Apesar do acordão jurídico-parlamentar estabelecido por aqui para dar uma sobrevida ao governo, Bolsonaro enfrenta agora duas denúncias no Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda, por crimes contra a humanidade e genocídio, como conta em sua coluna meu colega Jamil Chade.
O Tribunal de Haia recebe cerca de 800 denúncias por ano, a maioria de países africanos, e Bolsonaro é o primeiro brasileiro a fazer parte desta galeria.
Os processos são demorados para aceitar a queixa, mas não prescrevem e os denunciados podem ser julgados e condenados após o encerramento dos seus mandatos.
Nestes casos, Bolsonaro vai culpar quem?
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO KOTSCHO” ( BRASIL)