No mesmo dia em que os maiores hospitais do país divulgaram uma pesquisa provando que a cloroquina não serve para Covid-19 e ainda pode ter efeito adversos no coração e no fígado, Bolsonaro saiu correndo atrás das emas do Palácio da Alvorada com uma caixa do remédio na mão.
A cena patética foi registrada por um fotógrafo da agência Reuters, Adriano Machado, e ganhou o mundo. Nem Donald Trump, o êmulo do presidente brasileiro, tinha chegado a esse ponto.
Segundo as pesquisas, que mostram o Brasil rachado ao meio, na aprovação e rejeição ao governo, metade do Brasil achou engraçado e a outra passou vergonha.
Nada mais vindo do presidente é capaz de provocar espanto. Tudo vai sendo “normalizado”.
Apenas o presidente do PSOL, Juliano Machado, não achou normal Bolsonaro oferecer cloroquina às emas.
“Não está em seu juízo perfeito. Precisa ser interditado e afastado urgentemente”, recomendou Machado.
Mas quem tem autoridade para fazer isso?
É a primeira vez que alguém pede a interdição e não o impeachment do presidente.
Até ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já tinha recebido 48 pedidos para abrir um processo de impeachment, todos devidamente engavetados.
Maia acha que não está provado nenhum crime de responsabilidade de Bolsonaro.
O que falta ainda?
Além de fazer propaganda de um remédio que não cura os doentes e pode piorar o seu estado de saúde, Bolsonaro continua em campanha contra o isolamento social e defende a reabertura de todas as atividades econômicas.
Depois de passear de moto e conversar, sem máscara, com um grupo de garis no Alvorada, ,o presidente falou a um grupo de apoiadores:
“Quem está vivendo em sociedade mais cedo ou mais tarde vai pegar o vírus. Não tem como evitar morte no tocante a isso”.
Pois tem, sim, senhor. Estudo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), divulgado hoje pelo jornal O Globo, informa que o “isolamento social pode ter poupado, somente em maio, 118 mil vidas no Brasil”.
Com base na evolução de casos da covid-19 no país, índice de isolamento e diferenças regionais, os pesquisadores estimam que para cada 1% do aumento do isolamento social houve uma redução de 37% na taxa de contaminação.
Como não acredita em pesquisas de hospitais e universidades, Bolsonaro não dá sinais de mudar o discurso.
“Alguns estão falando que isso vai durar até 2022. Se continuar com essa política que está aí (de governadores e prefeitos), empobrece todo mundo”.
Com 2,3 milhões de brasileiros contaminados pelo coronavírus e mais de 84 mil óbitos, o Brasil só fica atrás dos Estados Unidos no ranking dos países com maior número de vítimas na pandemia.
E nada vai mudar. Continua o general interino na Saúde, com sua tropa de militares, após dois meses em que o número de casos cresceu em progressão geométrica.
Sem sair do Palácio da Alvorada há 17 dias, desde que foi diagnosticado com a doença, Bolsonaro só foi visto ao lado de seguranças, garis e emas, empunhando uma caixa de cloroquina como se fosse um troféu para mostrar aos seus devotos.
Mas até agora o Palácio do Planalto não divulgou nenhum boletim médico sobre o seu estado de saúde e o tratamento a que está sendo submetido.
Isso é normal?
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DO KOTSCHO” ( BRASIL)