Trata-se de um presidente tão irracional, que todas as análises concentram-se nas reações psicológicas deles a dois desdobramentos da doença: se forem sintomas leves, a previsão de comportamento é um; se for grave, o comportamento será outro.
Os cenários sobre o prazo de normalização da economia estão sendo atropelados pelo desenrolar da pandemia.
Há dois problemas centrais no Brasil.
O primeiro, a curva de crescimento das notificações, elevada mesmo com a óbvia subnotificação existente. O segundo, os índices de mortalidade, muito mais elevadas do que em outros países. Isso devido à carência de UTIs e respiradores.
A subnotificação ocorre no registro das mortes. Há uma elevação anormal nas notoificações de óbito por problemas respiratórios. Como não há nenhuma pandemia adicional, além do Covid-19, é evidente que parte relevante dos óbitos estão sendo subtraidos
Aqui, tem-se os dados organizados das informações divulgadas ontem à noite pelo Ministério da Saúde.
Há um crescimento de 4,5% ao dia na média diária semanal de novos casos, e de 3,7% ao dia na média diária semanal de novos óbitos.
Os dados internacionais, organizados pelo Centro Europeus de Prevenção e Controle de Doenças (e trabalhados pelo GGN) mostram um crescimento destacado do número de novos casos nos Estados Unidos e no Brasil, tanto nas curvas de curto prazo (média de 7 dias), quanto de longo prazo (média de 30 dias).
No caso do Brasil, há um pequeno acomodamento no crescimento da curva.
No entanto, a proporção de mortos por contaminados, no Brasil, é bem alto – e seria mais alto ainda se houvesse mais rigor no diagnóstico das mortes. Pela curva se percebe uma alta incidência de óbitos, quando a pandemia pegou as redes de saúde desarmadas. Depois, houve uma queda mais substancial nos Estados Unidos que no Brasil.Leia também: GGN Covid: quase 190 mil novos casos no mundo e Brasil com 25% dos óbitos
O percentual é calculado em relação às notificações totais. Levando em conta que 15% dessas notificações levam as pessoas a hospitais e 20% desse total leva às UTIs, percebe-se o tamanho da letalidade.
O fator Bolsonaro
Nesse quadro, o anúncio de que Jair Bolsonaro contraiu Covid-19 cria mais fatores de incerteza.
Trata-se de um presidente tão irracional, que todas as análises concentram-se nas reações psicológicas deles a dois desdobramentos da doença: se forem sintomas leves, a previsão de comportamento é um; se for grave, o comportamento será outro.
No caso de sintomas leves, Bolsonaro redobrará a aposta na campanha contra o isolamento e nas fantasias em torno da hdrocloroquina. Piorando a situação, é possível que caia a ficha e recolha as armas contra a ciência.
Dá-lhe, Covid!, no fundo, é a esperança de um mínimo de coerência à política de saúde, nas mãos de um general sem o menor conhecimento da matéria.
De qualquer modo, haverá uma pausa na ofensiva contra Bolsonaro. Nos próximos dias, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, analisará o pedido da defesa de Flávio Bolsonaro, de ter foro privilegiado e suspender as investigações do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro. Pelo seu histórico, a tendência será Noronha conceder a liminar. O que interromperia as investigações até o fim do recesso do Judiciário.
Passado o recesso, o Supremo Tribunal Federal, o STJ e Tribunal Superior Eleitoral darão sequência às investigações. Enquanto isto, a pandemia continua prosperando e ciência. tecnologia. educação, meio ambiente continuarão sendo destruídos.
Leia também: Aras defende que Bolsonaro escolha como quer depor sobre interferência na PF
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)