Seu argumento em defesa da flexibilização é bisonho. Diz ele que a cidade de São Paulo está com folga nas UTIs, cerca de 75%, o que não é considerado um indicador folgado; e que o ABC tem problemas. Logo não haveria porque dar o mesmo tratamento aos dois. Por solidariedade ao antigo subordinado, Mandetta balbuciou apenas algo como São Paulo e o ABC não são ilhas, as pessoas viajam de um lado para o outro.
É preciso haver cuidado com o discurso de alguns governadores, de justificarem todas suas medidas por um suposto aval científico. Wilson Witzel fala de boca cheia de planejamento científico. O mesmo faz João Dória Jr.
Não se negue a São Paulo um controle mais profissional da pandemia do que o caos do governo federal. E sabe-se que há pressões legítimas para relaxamento do isolamento social, devido ao sufocamento econômnico das empresas e das receitas estaduais. Mas há que se ter cautela. Se o isolamento ocorrer antes da hora, haverá um repique pior ainda.
Por tudo isso, é importante ter discernimento para analisar o papel de alguns técnicos de saúde, que estão avançando além das chinelas.
É o caso do João Gabardo, técnico da Saúde que se notabilizou nas coletivas do período do Ministro Luiz Henrique Mandetta. Gaúcho, trabalhou muito tempo com o deputado Osmar Terra, que foi Secretário da Saúde em municípios gaúchos.
No governo federal, defendeu expressamente o isolamento social. E sua opinião ganhou peso por endossar a do seu então chefe, Ministro Mandetta, insurgindo-se contra a irresponsablidade do governo. Virou um pota-voz da ciência contra o terraplanismo
Demitido, fio contratado pelo governo de São Paulo, mudou de chefe e passa a defender a flexiblização do isolamento, atropelando os dados e afirmando que a pandemia está refluindo no estado, sem nenhuma confirmação estatística.
Ontem, em debate televisivo, foi confrontado com uma pesquisadora da Fiocruz, que comparou os dados brasileiros com os argentinos. E afirmou que se o MInistério tivesse acatado a recomendação da Fiocruz, do isolamento total no início da pandemia, o Brasil poderia estar saindo da pandemia. A resposta de Gabardo foi sem sentido:
– Depois que os fatos acontecem, é fácil falar. É a engenharia de obras feitas.
Ora, a Fiocruz fez a recomendação no início da pandemia, mostrando uma visão prospectiva que não foi considerada pelos técnicos do Ministério da Sasúde, o próprio Gabardo. Assim como não houve nenhuma visão estratégica de adquirir insumos na China, antes da grande onda global. O Ministério da Saúde acordou quando a pandemia já estava em pleno andamento.
E agora, que Gabardo passa a defender o relaxamento do isolamento? Lembra alguns pareceristas jurídicos que, abordado pelo cliente pergunta: quer parecer contra ou a favor?
Não se condene o conhecimento técnico dele. Deve conhecer. Mas é o típico técnico que ganhou expressão política, em função dos incidentes provocados por Bolsonaro, mas não tem luz própria. Dá o diagnóstico que o chefe manda dar.
A visão ufanista dele, sobre o absoluto sucesso brasileiro – comparando com os desastres da Itália e França – não se deve a méritos da gestão Mandetta na Saúde. Deve-se ao SUS (Sistema Único de Sáude), uma obra muitissimo anterior à gestão mandetta. E que foi profundamente afetado pelas políticas de Bolsonaro, ante o silêncio de Mandetta, que foi essencial para liquidar com o programa Mais Médicos, por conta de restrições ideológiocas terraplanistas, sem a menor visão sobre as consequências para as populações atendidas.
Assim como o general Pazuello, Gabardo afirma que há muitas mortes no Brasil, porque há muita população. E invoca o indicador dos casos per capita. Ora, que analisasse também o indicador densidade populacional, mostrando que os indicadores brasileiros são extremamente favoráveis contra a disseminação da doença. Mesmo assim, o país está batendo recordes. Considerando os 140 países com densidade inferior a 10.000 habitantes por km, o Brasil é o 6o em contaminação per capita.
Seu argumento em defesa da flexibilização é bisonho. Diz ele que a cidade de São Paulo está com folga nas UTIs, cerca de 75%, o que não é considerado um indicador folgado; e que o ABC tem problemas. Logo não haveria porque dar o mesmo tratamento aos dois. Por solidariedade ao antigo subordinado, Mandetta balbuciou apenas algo como São Paulo e o ABC não são ilhas, as pessoas viajam de um lado para o outro.
Se o general Pazuella tivesse tido um pouco mais de paciência, manteria Gabardo como seu braço direito.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)