A INSISTÊNCIA EM UM AJUSTE FISCAL IMPOSSÍVEL

Para um Presidente primário, como Bolsonaro, basta sentar e aguardar o milagre que ocorrerá quando das nuvens descerem investidores externos sequiosos em investir no Brasil por causa da Lei do Teto.    

A insistência de economistas e jornalistas no controle fiscal, como condição suficiente para a volta do capital externo, é de uma alienação exasperante.

O principal fator de desequilíbrio fiscal é a recessão, derrubando as receitas fiscais. Não se vai obter nenhum equilíbrio fiscal com a manutenção da recessão e da pandemia. Portanto, o foco principal é o combate à pandemia e a recuperação da economia. E para os dois objetivos há a necessidade de aumentar gastos públicos.

Não significa defender a falta de controle.

O que ocorre é que Guedes – e parte da mídia atuando como boneco de ventríloquo – coloca a questão fiscal como ponto central de discussões e como álibi para atrasar medidas essenciais nas duas frentes de batalha.

O que ocorre é que, tanto na saúde quanto na economia, o fator tempo é essencial. A demora de medidas, tanto de saúde quanto na economia, deixa um enorme legado de perdas.

No caso das medidas de saúde, a demora na aquisição de UTIs, respiradores e testes fez com que o Brasil encontrasse o mercado internacional fechado. Sem o tempo para preparar a rede hospitalar, matou-se qualquer possibilidade de remanejamento planejado de equipamentos. O resultado foi a explosão de casos e de óbitos.

No plano econômico aconteceu o mesmo. A demora em liberar recursos para Pequenas e Micro Empresas resultou no fechamento de milhares delas. A ineficácia do financiamento da folha de pagamentos significou a extinção de milhões de empregos. Isso não tem volta. Impactará a recuperação da economia, tanto na intensidade quanto no tempo de recuperação. Esses são os fatores que, segundo os principais jornais do planeta, transformaram o Brasil em uma economia tóxica.Leia também:  “Deixa cada um se foder”, senhor Ministro da Economia?, por Alexandre Filordi

A retórica de priorizar o equilíbrio fiscal é apenas um álibi para a não ação. Desde a Constituição de 1988, sucessivos governos federais se esmeraram em pequenos truques para tirar recursos dos Estados, desde as negociações de contratos leoninos de refinanciamento da dívida, até os passivos acumulados na Lei Kandir, ou sucessivas DRUs (Desvinculação  de Receitas da União). Criou-se um efeito Pavlov, principalmente devido a um preconceito federativo da mídia, considerando virtuosos os recursos em mãos da União e desperdício o que vai para estados e municípios – apesar de eles estarem na linha de frente do atendimento dos cidadãos.

Quando se tem no comando da economia uma pessoa limitada como Paulo Guedes, a tendência é repetir movimentos padrão em um momento de total excepcionalidade, provocado pelo Covid-19.

Internamente no governo – conforme se conferiu na reunião do Ministério Bolsonaro – é esse discurso que tem convalidado toda a inação das políticas públicas. Para um Presidente primário, como Bolsonaro, basta sentar e aguardar o milagre que ocorrerá quando das nuvens descerem investidores externos sequiosos em investir no Brasil por causa da Lei do Teto.

Enquanto se discutem esses temas, há ameaças pairando sobre o turismo brasileiro, por conta da explosão do Covid-19, países impondo quarentenas a viajantes brasileiros, ameaças de boicota ao agronegócio por conta da política ambiental de Bolsonaro e dos ataques à China, a insegurança política e jurídica com um Presidente que acena permanentemente para a possibilidade de um golpe de Estado.Leia também:  Que porra é essa “ministro”!!!, por Edson Machado Monteiro

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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