Na disputa de vida e morte entre o criador Moro e a criatura Bolsonaro, agora só um deles pode se salvar. Ou os dois vão afundar juntos.
Cabe ao ex-juiz Moro apresentar as provas da delação premiada que fez contra Moro ao anunciar a sua saída do cargo de Ministro da Justiça, na semana passada.
Como o inquérito instaurado pelo STF corre em segredo de Justiça, não dá para saber o que está acontecendo no interrogatório de Moro, agora à tarde, no prédio da Polícia Federal, em Curitiba.
Do lado de fora, bolsominions e morominions, que se aliaram na onda do lavajatismo e do antipetismo, para ganhar a eleição de 2018, agora estão separados pela polícia, uns xingando os outros de “traidores”.
Acho que os dois lados tem razão.
Logo cedo, Bolsonaro chamou Moro de “Judas que hoje deporá”, por não descobrir quem foi o mandante da facada que, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público, não existe.
Os devotos de Moro respondem que traidor foi Bolsonaro, que prometeu a Moro combater a corrupção, e agora se aliou ao Centrão de todos os corruptos, para evitar o impeachment.
Desde ontem à noite, as redes sociais das “pessoas de bem” do bolsonarismo estão em pé de guerra, não mais contra o PT, os comunistas, o Congresso e o STF, mas contra Moro, que saiu do governo atirando.
“Ninguém vai querer dar um golpe em cima de mim, não”, garantiu Bolsonaro aos seus seguidores, na porta o Alvorada, antes de seguir neste sábado numa romaria até Cristalina, em Goiás, onde parou, sem máscara, num posto de gasolina, tirou selfies, deu abraços e comeu pastel, antes de seguir para o quartel da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército.
No auge da pandemia do coronavírus, Bolsonaro já foi a vários quartéis, mas ainda não entrou em nenhum hospital público para saber como estão sendo tratados os doentes.
Até agora, o presidente só foi duas vezes ao Hospital das Forças Armadas, em Brasília.
Ao mesmo tempo, jornalistas amigos de Moro espalharam a notícia de que o ex-juiz tinha em seu poder 15 meses de gravações no celular para provar suas denúncias contra Bolsonaro de querer interferir nas investigações da Polícia Federal.
Ou seja, Moro grampeou o presidente desde que os dois tomaram posse, para acabar com a “velha política”, e fundar um novo Brasil. Os dois deviam saber muito bem com quem estavam lidando.
Agora, o destino do Brasil está nas mãos do ministro Celso de Mello, o decano do Supremo Tribunal Federal, que deverá dar um veredito sobre o papel dois cúmplices nesta história, investigados por vários crimes no inquérito solicitado pela Procuradoria-Geral da República.
Quem menos informado passasse em frente do prédio da PF e encontrasse, de um lado, os “Amigos da Lava Jato” e, de outro, o “Acampamento Bolsonaro”, não iria entender nada, pois os dois grupos usavam os mesmos adereços verde-amarelos, óculos escuros, cabeleiras loiras, braços marombados e máscaras customizadas penduradas no pescoço.
Se não acontecerem os mesmos vazamentos que celebrizaram a atuação de Moro na Lava Jato, em parceria com a mídia amiga, o país vai ficar em suspense por um bom tempo ainda, enquanto esse inquérito prosseguir sob sigilo.
Aconteça o que acontecer, está chegando ao fim uma das maiores farsas da história política brasileira, que acabou em tragédia.
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DO KOTSCHO” ( BRASIL)