NIRLANDO BEIRÃO ( 1948 / 2020

Mestre de um ofício de obras perecíveis como o jornalismo, Nirlando Beirão deixou uma lição duradoura sobre essa atividade tão necessária a nossa época.  Com modos suaves, enganosamente doces, teve uma existência rara e exemplar, de quem é leal aos próprios princípios sem necessidade de levantar a voz nem fazer estardalhaço.

Nirlando produziu vários livros descartáveis como acontece na vida de tanta gente legal. Deixou  textos maravilhosos em cinco décadas de um jornalismo atento às contradições de um país com tantas surpresas agradáveis e terríveis. Também deixou uma obra indispensável,  “Meus Começos e Meu Fim,” onde conta a história de sua família, marcada por amor proibido dos avós, e também revela a descoberta de um diagnóstico terrível, ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), que o acompanhou nos últimos anos. 

Conheci Nirlando na redação do Jornal da Tarde, início dos anos 1970, onde me tornei um aprendiz de repórter antes de completar 18 anos. Entre talentos promissores — na época, iniciantes no jornalismo eram tratados como artistas em início de carreira — e profissionais consagrados, Nirlando destacava-se pelo espírito generoso e pela independência na postura. Traços notáveis numa redação onde matérias censuradas na véspera eram assunto de conversa em voz baixa no dia seguinte. 

Com um estilo elegante e naturalmente rebuscado, Nirlando foi aquele cidadão com acesso a altíssimas rodas que nunca perdeu a referência do país debaixo, dos milhões de homens e mulheres do povo que sofrem e trabalham duro. 

Como jornalista e como cidadão, deixou uma lição exemplar. Não se pode temer a verdade – mesmo a mais desagradável.

PAULO MOREIRA LEITE ” BLOG 247″ ( BRASIL)

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