Esta quinta-feira assinalam-se os 75 anos do suicídio de Hitler, a poucos dias da derrota alemã na Segunda Guerra Mundial. O DN republica a entrevista de António Ferro ao líder nazi, de 1930, quando este não tinha ainda chegado ao poder.
Chego a Munique, cidade-marioneta, coração musical da Baviera, às nove e meia da manhã. Que pretendo? Porque deixei Berlim e o seu jogo de luzes? (…) Para ver Hitler, para falar a Hitler, para conhecer o herói do romance, o John Gilbert da política alemã. Difícil, muito difícil, eu sei, Hitler é uma espécie de Dr. Asuero: desaparece, foge, torneja, passa como um relâmpago, está aqui, está ali, está acolá… Desconfia muito dos jornalistas, dos jornalistas latinos sobretudo, e manda-os pôr à distância pela sua escolta, pelos empregados da sua “Camisaria Castanha”. Não importa! Tentarei o raid. Se for vencido, perdoem-me… Farei tudo, tudo por vos mostrar num relâmpago, em dois minutos, a cabeça do homem, a cabeça de Hitler.
Cai neve, uma neve suspeita, artificial, de teatro moderno. Atiro as malas para um táxi e sigo para o hotel, para o Regina Palace. Na carteira, como única seta a apontar-me o caminho para Hitler, um nome difícil, um nome acrobata, de forças combinadas, como todos os nomes alemães: Ernest Hanfstaengl. É o chefe do protocolo de Hitler, o introdutor diplomático dos raros jornalistas que tentam a aventura de Munique, que não receiam as investidas guerreiras do homem da révanche.
(…) Vejo entrar um gigante no hall do Regina um gigante loiro, de calças-balões e meias-deporto que me adivinha, que se dirige a mim num francês trôpego, escangalhadíssimo, num francês mutilado da guerra:
– É o jornalista António Ferro…
– O próprio.
– Dr. Ernest Hanfstaengl, historiador.
– Muito prazer.
Dr. Hanfstaengl, historiador (será o cronista de Hitler?) é um bávaro cordial, insinuante, de uma instintiva amabilidade, uma daquelas canecas altas, acolhedoras, espumantes, da Casa da Cerveja, da Hofbrauhaus. Um gigante, sim, mas um bom gigante. Não veste “camisa castanha”, mas traz, em compensação, um bom impermeável castanho, um impermeável que me faz inveja.
O Dr. Hanfstaengl leva-me, familiarmente, de braço dado, para uma saleta do Regina e começa o seu interrogatório, cuja significação é disfarçada e atenuada entre sorrisos e interjeições, entre gargalhadas e gritos de bom humor. Hanfstaengl, historiador, quer saber tudo: quem eu sou, quantos anos tenho, se sou casado, se tenho filhos, quanto ganho, quais as minhas opiniões, o que penso de Hitler (eu vim a Munique, justamente, para pensar alguma coisa…), a tiragem do Diário de Notícias, etc. Estou bem disposto, simpatizo com o Dr. Hanfstaengl e respondo a tudo com infinita paciência, com uma tocante docilidade. O meu amigo de Munique deseja ver ainda um número do Diário de Notícias, deseja talvez mostrá-lo ao chefe antes da minha problemática visita. Levanto-me para lhe satisfazer a aspiração, para ir buscar um exemplar do meu jornal. E logo o “impermeável castanho”:
– Eu vou consigo.
Dito e feito. Ei-lo no meu quarto do Regina, mexendo nos meus papéis, soletrando os títulos dos livros dispersos, inspecionando os jornais franceses acabados de comprar, admirando as minhas malas (…). Um exemplar da Viagem à Volta das Ditaduras chama-lhe a atenção:
– E este?
– A minha reportagem em torno das ditaduras: Mussolini, Rivera, Kemal… Uma recomendação para Hitler, não é verdade? Acha que lhe mande um exemplar?
– Boa ideia! Mas escreva qualquer coisa, uma palavra amiga.
Hesito, mas eu preciso da entrevista com Hitler, que sinto fugir-me das mãos (…). E escrevo sobriamente sem mentir (admiro todos os magnetizadores de multidões): “A Adolfo Hitler, com muita admiração, oferece o António Ferro.” Mas Hanfstaengl, vigilante, embirra com a palavra “muito” e quer saber o que significa. É ele próprio, felizmente, quem conclui:
– Máxima, não é assim? A Adolfo Hitler, com a máxima admiração, não é verdade?
Não digo que sim nem que não. Sorrio, vagamente, e o sorriso passa como uma afirmativa.
Hanfstaengl olha-me agora com mais confiança, com mais respeito:
– Também é historiador, já vejo.
– Jornalista, apenas jornalista.
– É a mesma coisa. Eu também publiquei agora um livro que está fazendo sensação: Von Marlborough bis Mirabeau…
Começo a estar inquieto. Até agora nem uma palavra sobre a entrevista com Hitler, sobre a minha única aspiração em Munique, aspiração infantil, talvez, mas a aspiração legítima de um enviado especial à nova Alemanha. Pergunto a medo:
– E Hitler? Quando o verei? A que horas é a entrevista?
E Hanfstaengl, surpreendido, como se eu lhe falasse de uma coisa longínqua, de uma viagem à China:
– A entrevista com Hitler? Mas Hitler não pode recebê-lo! O chefe não dá entrevistas.
Perco a paciência, sou quase malcriado:
– Não dá entrevistas?!! Mas então para que veio o senhor ao hotel? (…) Que temos estado aqui a fazer?
Hanfstaengl acalma-me ou julga que me acalma:
– A entrevista é impossível, mas pode formular três perguntas, três perguntas fundamentais para a sua reportagem, e talvez lhe responda por escrito.
– Não me interessa! Desejo ver Hitler e desejo falar-lhe! Para o ler, compraria o seu livro Mein Kampf. (…)
E o historiador, cheio de paciência, outra vez bom gigante:
– Compreendo muito bem o seu mau humor e tentaremos o impossível para conseguir o seu desejo, se bem que Hitler desconfie de todos os jornalistas estrangeiros, principalmente dos que falam francês. Mas vamos saber, antes de mais nada, as perguntas que pretende fazer. É melhor escrevê-las neste papel. Pode perguntar-lhe, por exemplo…
– Perdão! Quem pergunta sou eu.
E Hanfstaengl, sem se ofender, sem se desarmar:
– Mas olhe que se trata de uma pergunta interessante, de uma pergunta atual: “O partido nacional-socialista não se transformou, depois das eleições, num partido nacional-bolchevista?”
E eu, para acabar:
– Bem… É a pergunta cuja resposta convém à propaganda do partido. Faço-lhe a vontade, mas as outras duas perguntas são minhas.
– E são?
– “O partido nacional-socialista é o partido da paz ou o partido da guerra?” “O partido nacional-socialista é um partido monárquico ou um partido imperialista indiferente à forma do regime?”
E Hanfstaengl, com resignação:
– Está bem. Escreva essas três perguntas e assine.
– Assino? Porque não? E agora?
E o historiador, com um sorriso bonacheirão, com um sorriso que me faz sorrir:
– Agora vamos almoçar. Desejo conversar consigo. As coisas da Península Ibérica interessam-me bastante.
(…) Acabado o almoço, um almoço rápido, frugal, sem sobremesa, saímos do restaurante e damos alguns passos sob a neve que parece artificial, uma brincadeira dos anjos rechonchudos do céu de Munique.
– Para onde vamos agora? – pergunto ao meu companheiro
– Ao Café Heck, ao café dos “camisas castanhas”. (…)
– Vou telefonar para o bureau do chefe. Espere um pouco.
E daí a momentos:
– Difícil, complicado… Mandaram-me esperar a resposta.
(…) E de repente, com alvoroço, com precipitação, com medo que os meus olhos percam a honra de tão excelsa visão:
– Mas aqui tem o chefe! É este que entrou.
Reconheço Hitler ao primeiro olhar. Comprei o seu retrato, em Berlim, na livraria do Angrif, e a sua imagem é um dos lugares-comuns das vitrinas de Munique. Hitler que passa por mim como um tufão, de impermeável cor de esperança e mãos nos bolsos, é acompanhado pela sua casa da guarda, três ou quatro senhores que o defendem dos indiscretos.
Pergunto a Hanfstaengl:
– Que veio o chefe fazer aqui?
Resposta exata:
– É a hora das anedotas, uma hora que Hitler não dispensa. Hitler gosta de estar ao par dos boatos que correm, das novidades políticas locais, etc.
E percebendo o meu interesse:
– Quer alguns apontamentos particulares sobre o chefe, sobre a sua vida? Tome lá este papel e escreva… Hitler levanta-se às sete horas da manhã e trabalha até à uma hora da tarde. Vai almoçar e vem depois aqui tomar café.
– Já sei… a hora das anedotas.
– Volta depois para a sede do partido, onde recebe visitas e delegações até às sete horas da tarde. À noite, cinema, teatro ou concerto.
– Hitler é casado?
Hanfstaengl dá-me a seguinte resposta, que reproduzo em francês, com as palavras exatas:
– Il n”aime pas les femmes.
– ?!!!
E o escrupuloso historiador, compreendendo o meu espanto:
– Não interprete mal estas palavras. Hitler admira e respeita as mulheres, mas renuncia a todas as ligações, ligações sentimentais ou de qualquer ordem, por amor da Alemanha. (…) Vou ver se falo ao chefe, vou ver se o convenço.
E um quarto de hora depois, de orelha murcha:
– Parece-me que está tudo perdido. A entourage estragou tudo. Hitler perguntou-me se você falava alemão. Eu disse-lhe que não, que só falava francês. E o chefe, que não está de bom humor, concluiu logo: “Então é um francês disfarçado.” Mas vamos andando para a sede do partido. Talvez ainda o convença.
(…) Antes de fazermos a última tentativa, peço a Hanfstaengl para irmos comprar um retrato de Hitler. Deixei ficar o meu no hotel e quero ver se aproveito a ocasião para conseguir um autógrafo do chefe para o Diário de Notícias.
E Hanfstaengl, solícito:
– Vamos ao Hoffmann, ao fotógrafo oficial de Hitler.
Cá estamos. Grande movimento. Uma formidável população de Hitlers, algumas empregadinhas gentis, de batas alvíssimas, que passeiam as suas mãos, todo o dia, sobre o insensível chefe.
Escolho uma fotografia de Hitler com a “camisa castanha” e uma cruz suástica no braço, a cruz de braços quebrados, símbolo dos “fascistas alemães”.
(…) Estamos, finalmente, na sede do partido nacional-socialista. Na sede provisória. Os hitlerianos acabam de comprar um dos melhores palácios de Munique, por dois milhões de marcos, para a sua instalação definitiva!
O gabinete onde estou é um gabinete confortável, simples (…). É o gabinete do secretário particular de Hitler, o último posto antes de chegar ao chefe. Chegarei lá? Hanfstaengl, que está sinceramente empenhado em realizar a minha aspiração, tem dúvidas, sérias dúvidas. Faz todos os esforços, no entanto, junto do secretário, para que ele vá convencer o chefe, para que eu seja recebido pelo “grande homem”, cinco minutos ao menos. E junta argumentos sobre argumentos: “que eu também sou nacionalista” (nacionalista “português”, é claro), que falei a Mussolini, a Rivera, a Coty, etc.
(…) O “historiador” passeia de um lado para o outro, apreensivo, incrédulo, sobre a démarche do secretário. Passa um quarto de hora, passa uma hora! Nada! Olhamo-nos, de quando em quando, aflitos, desanimados, como dois passageiros de um navio que soçobra e que estão fechados à chave numa cabina. Exagero? É preciso conhecer o métier para avaliar esta angústia, é preciso saber o que são estes minutos decisivos diante das portas fechadas e das bocas fechadas dos “grandes homens”… vir de tão longe para encontrar o silêncio, a evasiva, o “impossível”, é ter a verdadeira sensação do naufrágio, do “naufrágio” da reportagem em que se pôs fé, em que se pôs confiança, em que se pôs certeza.
A campainha do telefone retine e o meu companheiro precipita-se. (…) E prepara-se para o raid: pega, como quem pega em granadas de mão, num exemplar do Diário de Notícias e na Viagem à Volta da Ditadura.
E agora espero sozinho. Outro quarto de hora, outra meia hora, outra… Mas não! Ei-lo que abre a porta, desolado, caído, mais baixo, menos gigante, como se tivesse descido de umas andas quase a chorar.
– Tudo perdido, meu caro, tudo perdido! O chefe está numa reunião importantíssima, decisiva, de oficiais do seu partido. Agradece muito o seu livro, mas não pode recebê-lo.
E sem reparar que está a falar alto:
– Aquilo foi a entourage que estragou tudo. “Um francês disfarçado”, “um francês disfarçado” e não saem disto. No fundo, os meus inimigos, no fundo, tudo invejas.
Pergunto friamente a Hanfstaengl:
– E amanhã?
– Amanhã o chefe sai de Munique e não se sabe para onde vai.
Perco a paciência pela segunda vez e interpelo o pobre Hanfstaengl, que na verdade não tem culpa nenhuma:
– Oiça, eu vim a Munique, de propósito para falar ao chefe, ao seu chefe. (…) Não estou disposto a brincadeiras de mau gosto e não saio daqui sem uma palavra de Hitler.
– Mas Ferro…
– Arranje-se como entender, mas eu preciso dessa entrevista. Não tenho um extraordinário interesse pessoal em conhecer o seu chefe, mas se saio da Alemanha sem lhe falar perco a partida e isso eu é que não quero.
– Impossível! Impossível! Impossível!
– Hanfstaengl! Será verdade o que dizem os americanos? Será preciso pagar?
O “historiador” perturba-se com a pergunta e decide, heroicamente, um novo assalto:
– O senhor, com o seu desespero e com a sua injusta desconfiança, dá-me coragem para voltar ao chefe. Vou dizer-lhe que você está aflito, pálido, quase a desmaiar.
– Diga-lhe o que entender, diga-lhe até que me suicido se ele não me recebe! Desde que o tenha diante dos meus olhos e da minha caneta, o resto é-me indiferente.
Hanfstaengl, o bravo Hanfstaengl (que pena que eu tenho de contar tudo isto) sai para o último raid, para a última tentativa. Fico outra vez só. Perdi a fé, mas começo já a preparar a saída, a construir o artigo: “Quem vai pagar tudo isto, coitado, é este pobre Hanfstaengl, tão ingénuo, tão paciente, tão cheio de boa vontade”.
De repente, no meio das minhas divagações (…) um barulho de passos militares, ou antes, de passos militaristas. A porta abre-se com violência, com irritação, como se fosse aberta com um pé de vento, e eu tenho Hitler, finalmente, diante de mim, um Hitler severo, um Hitler-chefe, que me olha com desprezo e piedade, que não quis ser cúmplice da minha morte, que não quis que eu me suicidasse… alguns passos atrás, o bom gigante Hanfstaengl e o ajudante do chefe, um “camisa castanha” fotogénico, desempenado, desportivo. Aperto a mão de Hitler e fotografo-o à la minute. Um fato azul, simples, de qualquer alfaiate, colarinho mole, olhos azuis, alucinados, um bigode curto à Charlot, um nariz que arremete, algumas rugas, sobrancelhas carregadas, afastadas. A linha geral e a construção, apesar de tanta ferocidade aparente, de um boneco de loiça, de uma faiança de Copenhaga ou de Viena.
Hitler, que não se senta, que fica em sentido, escoltado pelos seus “fiéis”, comanda nervosamente:
– Três perguntas rápidas e expressivas.
Faço fogo:
– O seu partido é o partido da paz ou o partido da guerra?
Resposta breve, incisiva, sacudida:
– O meu partido é o partido da paz, mas não da paz de Versalhes!
E Hitler, metendo as mãos nos bolsos, olha-me com arrogância, como se eu fosse, de facto, um francês disfarçado.
Descarrego novamente:
– Há quem afirme que muitos comunistas têm ingressado dentro do seu partido, depois das eleições. É verdade?
E Hitler, sempre com a mesma voz militar, satisfeito pela pergunta-reclamo:
– Não é verdade! Os nacionais-socialistas são os maiores inimigos de Moscovo, a única verdadeira muralha, na Europa, contra o bolchevismo! Respeitamos, respeitaremos sempre a propriedade particular e todos os esforços individuais.
Terceira e última pergunta, a bala de canhão:
– O partido nacional-socialista é um partido monárquico ou é um partido imperialista indiferente à forma de regime?
Hitler corrige:
– Nem monárquicos nem imperialistas, alemães apenas! Monroe queria a América para os americanos… Eu e os meus partidários queremos a Alemanha para os alemães! E aqui tem, em quatro palavras, todo o meu programa.
Calcanhares unidos, numa pancada seca, saudação fascista, braço erguido, e Hitler retira-se – Um! dois! Um! dois! Um! dois! – como se fosse já para a guerra, seguido pelo seu ajudante impecável, feito de uma só peça, de uma peça de artilharia.
Mal a porta se fecha, Hanfstaengl cai-me nos braços, com uma comoção enternecedora, infantil:
– Vencemos a batalha! E pode gabar-se de ter sido o primeiro jornalista do mundo que se dirigiu a Hitler em francês. O ajudante estava admirado, mas teve de se resignar, mas teve de ouvir.
Hanfstaengl, meticuloso, pede-me, em seguida, que assine as perguntas que fiz a Hitler e as respostas do chefe… Faço a vontade ao meu infatigável amigo, mas tenho uma inspiração súbita: peço a Hanfstaengl, em compensação, que me declare, num papelinho (já que se faz tudo em papelinhos), que Adolfo Hitler me concedeu uma entrevista, na sua presença, e que me fez as afirmações exatas que acabo de reproduzir. Em Roma sê romano!
– É para publicar no seu jornal? – pergunta-me com certa inquietação.
– Talvez sim, talvez não… veremos.
Saímos juntos. São seis e meia da tarde. A batalha principiou às duas. Estou fatigado e mal oiço as recomendações de Hanfstaengl: “Agora veja lá, não me deixe ficar mal, olhe que o chefe confia em mim e eu tenho muitos inimigos no partido. Faça uma coisa entusiástica, sim? E mande-me o jornal, não se esqueça.“
(…) Despeço-me de Hanfstaengl com certa emoção, com a fraternidade de uma hora de luta vivida em boa camaradagem, com o remorso de não lhe poder ser agradável, de não poder escrever uma “coisa entusiástica”, uma “coisa boa” para o chefe. Mas a culpa não foi minha, a culpa foi do chefe… Que impressão posso eu ter da sua entrevista-relâmpago, das suas respostas “militares”, do seu “fascismo infantil”, made in Munique? Uma impressão local, regional, uma impressão que deve ser grata ao nacionalismo de Hitler, a impressão de um teatrinho de marionetas, de fantoches articulados. (…)
Fico triste. Sei que vou fazer mal ao meu bom companheiro de Munique, sei que lhe vou causar embaraços, mal-entendidos, com este artigo exato, rigorosamente exato. Mas que fazer? Eu não vim a Munique para receber ordens de Hitler, para receber ordens de um chefe que não é meu. Vim para fazer uma entrevista, para fazer jornalismo. E fazer jornalismo é fazer história, como afirmou, no começo deste artigo, o autor DeMarlborough a Mirabeau. Que maior homenagem posso eu prestar, afinal, a Hanfstaengl, ao “historiador”, do que fazer a “história” completa do nosso encontro, a “história” da minha viagem a Munique? Não é assim que se faz história? Talvez não. Mas é assim, pelo menos, que se faz jornalismo.
ANTONIO FERRO ” DIÁRIO DE NOTÍCIAS” ( PORTUGAL)