Jair Bolsonaro inventou a nomeação do tipo combo, uma novíssima modalidade de preenchimento de cargos públicos. Combo, como se sabe, é uma palavra em língua inglesa que representa a abreviação de combination. Em português, significa combinação.
Com a mesma naturalidade de uma pessoa que solicita pipoca com refrigerante no cinema, Bolsonaro enviou para o Diário Oficial um combo de ministro da Justiça com diretor-geral da Polícia Federal.
Para o ministério, nomeou o “terrivelmente evangélico” André Mendonça, deslocado do posto de Advogado-Geral da União. Para a PF, escolheu um terrivelmente amigo do clã Bolsonaro: Alexandre Ramagem, delegado federal içado da chefia da Abin.
O modelo combo revelou-se cômodo para Bolsonaro. Para não deixar dúvidas quanto aos seus propósitos, o presidente privou o novo ministro da Justiça de escolher o chefe da PF, que deveria ser um de seus principais subordinados.
Ficou entendido que Ramagem está submetido ao ministro da Justiça apenas no papel. Na prática, o chefe da PF vincula-se diretamente ao gabinete do presidente da República, sem intermediários.
A despeito de ter recuado da intenção de entregar a pasta da Justiça ao atual secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira, um quase-membro da família Bolsonaro, o presidente atingiu o seu objetivo: interveio na PF.
Por meio de Ramagem, Bolsonaro imagina obter informes diários sobre o andamento de inquéritos que correm contra ele e os filhos. A chance de algo assim terminar bem é nula. A corporação não ignorar intervenções.
Depois de afirmar que Sergio Moro mentiu, Bolsonaro confirmou as acusações do seu ex-ministro da Justiça. Efetuou na Polícia Federal uma intervenção política.
JOSIAS DE SOUZA ” SITE DO UOL” ( BRASIL)