Em resposta às acusações de Sergio Moro, Jair Bolsonaro fez um discurso de 40 minutos no Palácio do Planalto, nesta sexta-feira, para se defender e atacar o seu agora ex-ministro da Justiça.
No ponto mais polêmico do seu discurso, meio improvisado, meio lido, o presidente acusou Moro de ter tentado barganhar o cargo do diretor-geral da PF por uma vaga no STF, mas só em novembro.
Enquanto o presidente falava, o procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou ao STF a abertura de um inquérito para investigar as denúncias de Moro contra Bolsonaro por tentar interferir na Polícia Federal para ter acesso a informações confidenciais.
No seu pedido para a apuração de eventuais atos ilícitos do presidente, Aras solicitou ao mesmo tempo que seja investigado igualmente o possível crime de denunciação caluniosa por parte do ex-ministro.
Ou seja, como um acusou o outro de mentir, se o inquérito for aberto, poderemos ter uma inédita acareação entre o presidente da República e o seu ex-ministro.
Bolsonaro aproveitou o pronunciamento para demonstrar o apoio do ministério, que estava quase todo perfilado ao seu lado, junto com o filho Eduardo Bolsonaro e o amigo deputado Hélio Negão.
O único ministro citado e defendido pelo presidente em sua fala foi o da Educação, Abraham Weintraub, que, curiosamente, não estava presente. Em compensação, Paulo Guedes reapareceu e era o único protegido por máscara.
Num discurso desconexo, em que alternava queixas pessoais sobre ataques à sua família com criticas ao comportamento de Moro por falta de lealdade e compromisso com o governo, Bolsonaro revelou fatos que podem lhe trazer problemas no futuro durante as investigações solicitadas pela PGR.
Para justificar seu pedido a Moro de acompanhar investigações sigilosas da Polícia Federal, Bolsonaro disse que fazia o mesmo com os serviços de inteligência das Forças Armadas e da Abin, a agência que substituiu o antigo SNI.
Até onde sei, entre as prerrogativas presidenciais numa democracia, não consta o acompanhamento de investigações sigilosas, que foi o estopim da crise com Moro e o ex-diretor-geral Maurício Valeixo.
Aguardam-se os novos capítulos desta emocionante novela planaltina que promete novas revelações nos próximos dias, como Sergio Moro sugeriu em seu pronunciamento.
Nesse meio tempo, a crise política roubou as manchetes do combate ao coronavírus, que matou mais de 300 pessoas nas 24 últimas horas e já deixou mais de 50 mil contaminados pela pandemia.
É como se vivêssemos em dois países com realidades e preocupações diferentes, que estão se estranhando.
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DO KOTSCHO” ( BRASIL)