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BEMVINDO SEQUEIRA COMENTA A TRAJETÓRIA DE CASTRO BARBOSA CRIADOR DO PROGRAMA RADIOFÔNICO PRK-30 JUNTO COM LAURO BORGES NA RÁDIO MAYRINK VEIGA E NA TV PAULISTA

Este foi, sem dúvida, o maior programa de rádio de todos os tempos no Brasil. Dois dos maiores humoristas brasileiros, Lauro Borges e Castro Barbosa estavam à frente desse programa de humor, que estreou na rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, em 19 de Outubro de 1944.

PRK-30 era o prefixo de uma suposta rádio pirata, onde dois speakers, Megatério Nababo D’alicerce (Castro Barbosa) e Otelo Trigueiro (Lauro Borges), apresentavam notícias de impagáveis correspondentes internacionais, cantores, declamadores, etc, todos protagonizados pelos dois humoristas.

O programa PRK-30 teve a sua origem no programa PRK-20 da Rádio Clube do Rio de Janeiro, com os mesmos apresentadores. Lauro Borges recebeu um convite irrecusável para se mudar para a rádio Mayrink Veiga e lá, criou a PRK30, segundo ele, com 10 megahertz a mais de potência que a anterior.

Castro barbosa só iria para a Rádio Mayrink Veiga em 16 de Abril de 1945, na 25º edição do programa, porque estava preso ao contrato com a Rádio Clube.

Enquanto Castro Barbosa permanecia na Rádio Clube, o actor Pinto Filho assumia o seu posto com o personagem Chouriço de Moraes.

Ainda mesmo antes da PRK-20, Lauro Borges já tinha ficado famoso com dois outros programas de humor. Eram eles, A Buzina e Cenas Escolares (mais tarde, baptizado de Piadas do Manduca, devido a problemas com a censura).

O programa humorístico PRK 30 está para o rádio como o Barão de Itararé, o grande humorista, está para o jornal escrito. Se até hoje os livros de humor do Barão são lidos com total prazer, as poucas gravações existentes permitem que possamos acompanhar, com a mesma satisfação, Lauro Borges e Castro Barbosa à frente do programa de rádio que permaneceu no ar de 1944 a 1964, sendo que em 1947, no auge da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, conseguiu 52,5% da audiência em Novembro e fechou o ano com 50,1%.

O programa passava para o ouvinte a ideia de uma “rádio pirata” que entrava no ar em cima do prefixo da Rádio Nacional, satirizando tudo que acontecia no Rádio da época. PRK 30, que segundo os apresentadores, era um programa “só para homens, mulheres e crianças de ambos os sexos”, era escrito por Lauro Borges e apresentado por ele e Castro Barbosa, sendo que apenas os dois faziam todas as vozes de todos os personagens, coisa que boa parte do público não acreditava que fosse possível. Alguns exemplos são: Megatério Nababo d’Alicerce (Castro), um português que se orgulhava de “falar inglês em vários idiomas”, e Otelo Trigueiro (Lauro), “a voz onde as abelhas se inspiram para fazer o mel”, que fala para o “deleite condensado das morenas inequívocas, das louras inelutáveis e até das morenas ferruginosas. Para todas aquelas que estão me ouvindo, meus sinceros parabéns”!

As radionovelas que faziam grande sucesso na época não escaparam às sátiras dos dois e então a PRK 30 colocava no ar novelas como: “Só morra em Godoma”, que tinha os personagens: Romeu de Pontapelier, tio de uma sobrinha. Amaro, primo de Rosa. Rosa, prima de Amaro. Alice, filha de um vizinho da esquerda. Dona Esquerda, vizinha do pai de Alice. Dona Moema, esposa do doutor Valério, já falecido e, portanto, viúva.

Lauro Borges fazia um outro programa chamado “Piadas do Manduca” e Castro Barbosa fazia o mesmo “português” em outros programas. Antes disso, em1937, Lauro tinha um programa chamado “A Buzina”, onde imitava vozes de correspondentes estrangeiros.

Os dois conheceram-se no lendário Programa Casé e foi Renato Murce quem teve a ideia de reuni-los pela primeira vez no programa “A Hora Sorrindo”.

Estiveram também nos programas humorísticos “Variedades Esso”, “Programa Colgate-Palmolive”, “Clube do Lero-Lero”, mas, sobretudo, “PRV-8 “RaioX” e “PRK-20”, esboços da futura “PRK-30” – quando só então Castro Barbosa assumiu o seu nome real.

PRK-30 estreou no dia 19 de Outubro de 1944, às 21h, pelas ondas da Mayrink Veiga: “Meus estimados admiradores, boa-noite. A voz que vocês estão tendo o prazer de ouvir neste momento é a voz penicilínica, veludosa e afiambrada do maior espícler da presente actualidade: Otelo Trigueiro. Tanques! Tanques! Tanque iú vira e mexe”.

A partir dessa saudação ao público, a empatia popular do programa só fez crescer a cada edição, principalmente quando passou a ser transmitido pela Rádio Nacional, em 1947.

Ninguém sabia que Lauro Borges criava as suas criaturas a partir de impressões do quotidiano: um rapazinho negro, que gostava de escrever poemas de amor às moças da sua rua, inspirou a figura de “Otelo Trigueiro” e as folias poéticas do “Boa-Noite”; um português do bar da esquina, gordo e bigodudo, serviu de modelo para o “Megatério”; uma vizinha portuguesa metida a entoar fados e que vivia implorando por uma oportunidade no rádio deu origem à “Maria Joaquina Dobradiça da Porta Baixa”.

Infelizmente existem poucas informações sobre estes dois importantes nomes da radiofonia e do humorismo brasileiros. Laurentino Borges Sáes (Lauro Borges) era paulista. Nasceu em 1901 e faleceu em 1967. Joaquim Silvério de Castro Barbosa (Castro Barbosa) era mineiro, nascido em 7 de maio de 1905 e falecido em 20 de Abril de 1975.

Segundo humoristas como Chico Anísio e Jô Soares, e importantes nomes da comunicação como Renato Murce e José Bonifácio Sobrinho, o Boni, PRK 30 foi o melhor programa de humor de todos os tempos e o embrião de todo humor desenvolvido pelo Rádio e pela Televisão desde então.

Ouça um programa completo
Lauro Borges & Castro Barbosa – PRK-30Áudio: 

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