BOLSONARO PAGA PRA VER E O PAÍS AGUARDA A RESPOSTA DAS INSTITUIÇÕES

Postergar qualquer decisão em relação a Bolsonaro significará dar mais tempo para que continue armando suas milícias e boicotando o golpe ao coronavirus.

Não se deve analisar isoladamente a fala de Jair Bolsonaro na frente do quartel do Exército, com palavras de ordem contra o Congresso e endossando manifestação a favor do AI-5. Por si, poderia ser apenas uma bazófia a mais, que será minimizada no dia seguinte.

Mas se deve somar ao ato os seguintes episódios anteriores:

  1. A revogação da decisão da área militar de exigir identificação das munições vendidas no país, ponto essencial para identificar a origem de balas usadas em operações criminosas – como a que vitimou a vereador Marielle Franco.
  2. A condenação do acordo com as telefônicas para permitir a identificação de aglomerações que possam colocar em risco o isolamento.

Poucos dias depois desses dois movimentos, explodiram as carreatas, planejadas de forma central muito provavelmente pelo Gabinete de Ódio, controlado pelos irmãos Bolsonaro. No mesmo momento em que Bolsonaro falava contra as instituições, além disso, o filho Carlos divulgava um vídeo, pelo Twitter, mostrando grupo de 15 atiradores praticando tiro ao alvo e gritando o nome de Bolsonaro.

Desde o ano passado apontamos insistentemente para a estratégia dos Bolsonaro, de ganhar tempo no governo enquanto preparavam milícias armadas, seguindo o modelo histórico do fascismo. Reforçava a hipótese o projeto de liberação das armas, a tentativa de remoção do fiscal da Receita que atrapalhava o contrabando de armas no porto de Itaguai, as declarações de Eduardo Bolsonaro e Olavo de Carvalho – de que o regime deveria ser defendido por milícias civis -, a descoberta de um verdadeiro arsenal na casa de um miliciano ligado à família Bolsonaro. E também as ligações políticas da indústria de armas e dos grupos de ultradireita (leia, a propósito, o “Xadrez da Indústria de Armas e o Financiamento da Direita”.Leia também:  Bolsonaro evita críticas a Mandetta, enquadra Teich e ataca governadores

Era nítida a maneira como ele e os filhos assediavam os clubes de tiro, a base das polícias militar e civil, além das relações históricas com as milícias.

Ontem, o The Washington Post relatava que, ao lado das carreatas contra o isolamento social, ativistas armadas usavam grupos de Facebook para promover protestos contra a quarentena.

As carreatas de ontem, contra o isolamento social, ocorreram simultaneamente em cidades brasileiras e norte-americanas, comprovando um planejamento central – provavelmente de Steve Bannon, o guru que armou a ultra-direita mundial com ferramentas das redes sociais. Bannon define estratégias gerais. Obviamente cabe a cada país analisar suas próprias circunstâncias.

Ocorre que falta capacidade intelectual mínima aos Bolsonaro. Limitam-se, então, a reproduzir mecanicamente as instruções que vêm de cima, sem analisar as circunstâncias internas. E acabaram se iludindo com a movimentação das bolhas bolsonaristas, passando uma ilusória sensação de hegemonia na opinião pública brasileira.

Os arroubos do pai ocorrerem depois de um café da manhã com todos os filhos, um convescote de sociopatas megalomaníacos. Na tacada de ontem, acuados pelos erros cometidos na condução do combate ao coronavirus, os Bolsonaros se iludiram com a fantasia que eles próprios criaram, de hegemonia junto à população, e fizeram a grande aposta no golpe.

A reação contra o ato partiu de setores políticos, jurídicos – do Supremo Tribunal Federal (STF) a associações de magistrados de diversas linhas políticas, e associações de procuradores -, de personalidades variadas, de governadores, um amplo espectro ideológico de partidos políticos.Leia também:  ABJD-PR defende o destrancamento penitenciário durante a pandemia

Hoje se terá a prova do pudim. Postergar qualquer decisão em relação a Bolsonaro significará dar mais tempo para que continue armando suas milícias e boicotando o golpe ao coronavirus.

Pode ser mais prático para a oposição – do centro direita ao centro-esquerda – empurrar com a barriga até conseguir montar sua estratégia pós-Bolsonaro. Não se trata simplesmente de um Presidente da República, que pode ser contido pelas instituições funcionando. Trata-se do chefe de uma organização clandestina armada capaz de mobilizar milícias violentas por todo o país, conforme se conferiu nas manifestações de ontem.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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