Para concordar com Bolsonaro, Lottenberg cria um truque retórico: imagina uma hipótese que ele mesmo sabe ser inviável.
Quando há dúvidas sobre uma indicação política, e você é um dos candidatos, a primeira lição é: não se ofereça. Primeiro, porque quem indica considerará pressão indevida. Segundo porque, não sendo escolhido, passará um carão.
É o caso da entrevista de Cláudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo do Hospital Albert Einstein, e oftalmologista, concedida poucos horas atrás a O Globo.
Trechos da entrevista e do abre:
Sobre o convite que não recebeu
- Não (houve convite). Tenho acompanhado pela imprensa essa movimentação e, nos últimos dias, isso tem chegado a mim como reverberação de pessoas ligadas aos setores privado e público. Não recebi nada formal do presidente Bolsonaro.
- Elas (as pessoas que o sondaram) entendem que eu reuniria as condições necessárias para desenhar um plano de saúde para o país.
- Não tive nenhum convite e poderia considerar caso ele viesse. Evidentemente que para uma função dessas, às vezes, não é um convite mas uma convocação pela situação que o país atravessa.
Sobre sua competência
- Eu me preparei a vida inteira. Administrei hospitais, conheço planos de saúde, fui secretário municipal de Saúde de São Paulo. (Nota: não permaneceu sequer seis meses no cargo, por não aguentar o rojão).
- Tenho 59 anos de idade. Trabalhei a minha vida inteira. Não preciso pedir para trabalhar em lugar nenhum. Se eu for chamado para ajudar, eu vou considerar se for uma solução de natureza técnica.
Sobre isolamento horizontal
- O fenômeno de isolamento social está sendo muito discutido porque tem um prejuízo na vida econômica e financeira do país. Então é um desafio enorme encontrar uma alternativa que preserve a vida das pessoas, mas não paralise a atividade econômica.
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Para concordar com Bolsonaro, Lottenberg cria um truque retórico: imagina uma hipótese que ele mesmo sabe ser inviável:
- Uma política de testagem em massa, avaliando a capacidade instalada hospitalar, poderia mostrar um mapa (de isolamento) um pouco diferente daquele que temos hoje. Eventualmente nessas regiões flexibilizar o isolamento.
Ou, então, um isolamento em dois turnos: durante quatro dias a pessoa trabalha (e se contamina); nos seis dias seguidos fica no isolamento. Uma sugestão risível, mesmo dando-se o desconto de que se trata de um oftalmologista.
- Conversei hoje com um professor de Israel que sugere um isolamento em que as pessoas alternam períodos de isolamento com períodos de trabalho. São quatro dias de trabalho e seis de isolamento. Tenho a impressão que deve existir uma alternativa mais criativa.
Sobre o isolamento vertical defendido por Bolsonaro
- Acho que existe um caminho por aí porque já existem populações imunizadas. Tem muita gente que foi assintomático, e a maior parte é assim, e são pessoas que já poderiam estar em vida normal. Minha leitura é que temos a oportunidade de ser criativo.
O repórter pergunta se essa recomendação não é inviável, à luz das recomendações da Organização Mundial da Saúde. E Lottenberg sai com a fórmula salvadora:
- O papel do ministério é levantar números e ficar apresentando diariamente esses números na televisão? O ministério tem que procurar soluções.
E não diz quais soluções.
Ou então
- Se ficar debatendo isolamento ou não isolamento não vamos chegar lá. Cada secretário de estado tem que ter a sua forma para encarar isso. Eu acredito que há formas mais inteligentes de se fazer o isolamento social.
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E não explica como.
Sobre o contato com Bolsonaro
- Nós conversamos sobre pesquisas da hidroxicloroquina, onde ele mostrou uma atitude educada e jamais impositiva. Acima de tudo curioso, querendo encontrar uma resposta para algo que pudesse trazer segurança para os cidadãos. Não temos que trabalhar para o presidente ou para o governador. Temos que trabalhar pelo bem da saúde dos brasileiros e da economia.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)