DINHEIRO NÃO CHEGA AOS POBRES PORQUE O GOVERNO NÃO OS CONHECE

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Nunca a frase dita por Betinho (Herbert de Souza), na campanha contra a fome, organizada por ele e D. Mauro Morelli, (bispo de Duque de Caxias – Baixada Fluminense), com apoio do governo da época, (1993), foi tão atual: “quem tem fome tem pressa”.

A urgência que bate nos estômagos vazios das comunidades carentes, no entanto, não parece ter o mesmo ritmo no governo federal. Sem entender que está diante de uma ameaça planetária – eu disse planetária – de morte, calça sapatilhas de pontas para pisar no terreno das concessões e medidas que deve tomar agora. HOJE! ONTEM, se conseguir.

Jair Bolsonaro está preocupado com a tramitação da medida que concede míseros R$ 600,00 aos trabalhadores autônomos, e aos desempregados de modo geral (se é que ele sabe o que é “de modo geral”), porque ao conceder o benefício pode resvalar em “pedaladas”. Ora, ora, ora, como se em seu gabinete, enquanto deputado, coisas bem menores do ponto de vista de grana, mas bem maiores no que diz respeito à falta de ética, não fossem práticas corriqueiras.

Este argumento, que já foi colocado por terra pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e por uma liminar do ministro do STF, Alexandre de Moraes, no entanto, esconde uma realidade muito dura de engolir por ele e seu grupo, coleguinhas, ou o que quer que o circunde, – pois equipe de governo não é o nome adequado para classificar essa gente.

O que o está impedindo, na verdade, é o seu total distanciamento da sociedade civil. Aquele conjunto para o qual ele jurou no dia da posse, governar, mas não o fez. Porque lhe falta o que sobrou nos 13 anos de governo do PT: articulação com os diversos segmentos da sociedade. Diálogo franco, aberto, acessível.

No governo Lula, o ministro da Secretaria Geral, Luiz Dulci, tinha como função primordial o diálogo com os movimentos sociais e com a sociedade. O seu gabinete era a porta de entrada e de passagem para quantos quisessem ou tivessem necessidade de apresentar questões que estivessem ligadas às necessidades básicas, ou direitos ameaçados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha notícias frescas, diretas e atualizadas das necessidades do povo. Ato contínuo, recebia no gabinete presidencial os que necessitassem de providências. Quer fossem empresários, quilombolas, sem-terra, sem-teto, movimento negro ou indígenas.

Não faltam regras. Falta diálogo e articulação. Bolsonaro governou (???) até aqui de costas para os segmentos que agora precisa acolher e aos quais jamais foi apresentado. Porque os despreza, porque se recusa a tomar conhecimento de suas realidades, porque os queria fora do Estado. Agora, quando a pandemia exige que ninguém seja deixado para trás, ele não sabe quem são os que precisa ajudar. Tivesse ele um pouco de humildade, e chamaria para assuntar de que forma o ex-ministro Patruz Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2004 a 2010), responsável pela organização do cadastro único, tornou possível a viabilização de modo ágil, ao programa Bolsa Família. Tivesse ele interesse para além do ideológico e convidaria, pelo menos para se orientar, a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome durante os governos da presidente Dilma Rousseff, a economista Tereza Campello, responsável por ampliar o trabalho de Patruz e tirar o Brasil do Mapa da Fome, conforme reconheceu a ONU.

Não é de economia que se trata. É de se ater, numa hora tão difícil, a diferenças partidárias. Pensando bem, Bolsonaro nem sabe o que isto, pois pulou de galho em galho, até se esborrachar, sem partido. A equipe econômica está presa a dois entraves: a expectativa de faturar eleitoralmente com a crise e princípios estúpidos arraigados na personalidade egocêntrica e paranoica do infelizmente presidente e sua gangue.

Enquanto isto, os pobres esperam e ele inverte a fila de prioridades, de acordo com o seu interesse. Primeiros os bancos, depois os empresários, depois os autônomos organizados e ao alcance da mão do Estado, depois os informais que conseguirem provar que assim o são, e ter acesso ao cadastro único. E, por fim, aqueles que tal como a imagem dos refugiados, se agarram sem boias à beira do barco em mar bravio. Eles existem, Jair. Eles gritam por socorro. E a OMS já determinou. Socorra-os, Jair. Quanto mais não seja por humanidade, mas porque podem se transformar em vetores velozes de transmissão. E aí, sim, você apontará o seu indicador para eles e dirá: “foram eles”. Do mesmo jeito covarde e preconceituoso que hoje o leva a chamá-los de “vagabundos”.

DENISE ASSIS ” BLOG 247″ ( BRASIL)

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