TÃO GRANDE QUANTO O PÃO DE AÇÚCAR

Portugal deu mundos ao mundo nos séculos que marcaram o esplendor de seus Descobrimentos Marítimos, ao longo da Idade Moderna (1453 – 1789), sob a dinastia dos Mestres de Avis e da Sereníssima Casa de Bragança.

A Idade Moderna, mãe do Iluminismo europeu, teve início com a derrota da Cristã Constantinopla, ao cair em poder dos maometanos otomanos, originários da Mongólia, transformando a grega Imperial Bizâncio, outrora sede do Império Romano do Oriente, no Sultanato da Turquia, rebatizando sua metrópole para Istambul.

E terminaria, literalmente, no banho de sangue que se seguiu à Revolução Francesa, com a instauração de sua República, laica e igualitarista, guiada pelos ideais do olimpo clássico ateniense, porém, nos moldes dos calvinistas reformistas – inspiradores, em 1776, da Independência dos Estados Unidos.

Portugueses deixariam testemunhos de sua presença em todos os continentes com a criação de cidades. Desde o Brasil, o imenso Portugal das Américas, às Áfricas, com a fundação, entre tantas outras, de Luanda, capital de Angola, e, na Ásia, da japonesa Nagasaki – atingida na Segunda Guerra (1840 – 1845), assim como Hiroshima, por bombas atômicas. Encontram-se preciosas relíquias da arquitetura manuelina e barroca lusitana em todo o planeta.

Mesmo depois da Independência do Brasil, ocorrida há 198 anos, os portugueses continuariam a construir verdadeiros templos da lusitanidade de Norte a Sul País – impulsionados pelos braços fortes de seus povos, já não como colonizadores, mas, simplesmente, como emigrantes.

Uma das bibliotecas mais deslumbrantes do mundo, em formosas linhas neo-manuelinas, o Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, de 1837, teve suas requintadas instalações erguidas pela determinação e suor dos imigrantes portugueses. A maioria oriunda das regiões ao Norte – principalmente de Trás-os-Montes, Minho e das Beiras, como costuma definir um ilustre representante da comunidade, o caríssimo Comendador António dos Ramos, de 78 anos, transmontano de Chaves, líder em São Paulo, onde é Presidente da Casa de Portugal.

Encostada a Trás-os-Montes está a querida Beira Alta e justamente de lá emigraria para a capital paulista, em 1927, Valentim dos Santos Diniz (1913 – 2008), vindo de sua Pomares do Jarmelo natal, do Concelho de Pinhel, Freguesia da Guarda.

Ele trabalhou, no começo, como balconista do Real Barateiro e chegou a ter padarias. Estabeleceria, em seguida, em 1948, na Avenida Brigadeiro Luis António, uma doceria, à qual daria o sugestivo nome de Pão de Açúcar, escolhido por ter sido esta a primeira e arrebatadora visão que teve do Brasil, ao fazer escala no Rio de Janeiro, após cruzar o Atlântico, com destino a Santos. Pensou, acertadamente, que o nome lhe daria sorte. Inauguraria, onze anos mais tarde, o pioneiro supermercado do que viria a ser uma das maiores cadeias varejistas brasileiras. Valentim Diniz é um exemplo para a comunidade portuguesa e o setor empresarial luso-brasileiro.

Tive o privilégio de conhecer Valentim Diniz num dia muito especial, na manhã de 22 de abril de 2006, no ensejo do 506º Aniversário do Descobrimento do Brasil, quando fui o orador oficial do evento do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo, realizado junto ao Monumento Pedro Álvares Cabral, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Valentim Diniz era o Presidente de Honra da entidade. Mas a presidência da diretoria já estava sob o comando do amigo António de Almeida e Silva, 70 anos, natural da Beira Litoral, atual Presidente do Conselho da Casa de Portugal. Uma ocasião inesquecível para mim e que, hoje, recordo com profundo carinho.

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

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