Eu havia jurado que não me deixaria contaminar pelo pânico quanto ao coronavírus. Agir normalmente, tomando os cuidados necessários é o suficiente, pensava. Mandam os médicos e técnicos em coletivas do Ministério da Saúde, que se lavem as mãos o maior número de vezes possível, para espantar a ameaça do contágio. Até que entrei em um banheiro de uma universidade pública e, após usá-lo, me dirigi à pia para o rotineiro hábito de higiene, agora com atenção redobrada.
Sugerem eles que cantemos duas vezes o “Parabéns pra você”, como forma de calcular o tempo ideal para o asseio das mãos, agora, em tempos de ameaça.
Tentei o recipiente do sabonete líquido. Vazio. Procurei o frasco de álcool gel. Inexistente. Catei na necessaire um tubo de pasta de dentes e, num improviso absurdo, cobri a mão com o creme dental, tomando o cuidado de espalhar bem. Pela minha cabeça passavam números: ‘nova doença já afeta cerca de 114 mil pessoas em mais de 100 países, e matou mais de 4 mil. O Brasil tem 34 casos confirmados do novo tipo de coronavírus, (o Sars-coV-2). São 19 em São Paulo, oito no Rio, e um no Rio Grande do Sul, sendo que existem no país 893 casos suspeitos’…
Sob a torneira deixei rolar a água enquanto mentalmente cantarolava a tal da musiquinha. Enxaguei e me dirigi à caixa metálica que deveria conter toalhas de papel. Vazia.
Com a escassez de recursos impingida às universidades, o ministro Weintraub acaba por ser conivente com o contágio por coronavírus, pois se não há sabonete disponível nos banheiros das universidades, onde transitam milhares de jovens diariamente, como impedir que o tal do vírus se expanda? Só mesmo cancelando as aulas, à moda italiana.
Transportem esta situação para os banheiros de restaurantes na hora do almoço, nos grandes centros. Ou, pensem nos banheiros das biroscas das comunidades. Ou, melhor, tentem imaginar aquelas mães que vão precisar decidir entre o pão ou a compra do sabonete… Este não é um país à prova de coronavírus, concluirão.
Ainda bem que, por enquanto, ele tem contaminado os que podem andar de avião e sair de férias ou viajar a trabalho, para o exterior. Do contrário, seria de imediato uma calamidade. Como conter o alastramento de um vírus destes, num país onde banheiro é fossa, saneamento é luxo, e higiene, só quando é possível? “Parabéns, pra você… Nesta data querida”
…
DENISE ASSIS ” BLOG 247″ ( BRASIL)